Você pode não associar os estilos rapidamente, mas deve conhecer a American Lager de outros carnavais. Afinal de contas, trata-se de um tipo de cerveja (da família Lager) que a grande indústria cervejeira comercial no Brasil e nos mais diversos países se inspira para os seus principais rótulos.
É bem verdade que essas empresas insistem em chamar os seus produtos de Pilsen, mas elas não têm nada a ver com esse estilo tão predominante no leste europeu. A American Lager, por sua vez, é mais refrescante e muito mais suave, por exemplo, entre outras diferenças significativas que ajudam a separar uma da outra.
Só que essa curiosa característica não se dá apenas aqui, no Brasil. Atualmente, a popularidade da American Lager é tanta, que o tipo de cerveja se tornou o mais comercializado e consumido no mundo inteiro.
Por isso, não adianta torcer o nariz para esta forma de cerveja, especialmente porque existe muita riqueza e também versatilidade nela, qualidades que têm sido amplamente trabalhadas por mestres-cervejeiros de todas as partes, em busca de novos sabores.
E, para provar que você ainda tem muito a aprender com esse estilo de cerveja, vamos abordar, ao longo deste post, tudo o que você precisa saber sobre a American Lager: desde a sua história aos principais rótulos que você pode degustar — quem sabe, enquanto lê o nosso artigo? Confira!
A história da American Lager
Também conhecida como o estilo de “cerveja da massa”, por ser mais suave do que outros estilos — europeus ou não — de grande complexidade, a Lager americana pode ser considerada um verdadeiro sucesso. E não só por ser o estilo número um de produtores e consumidores.
Acontece que a Standard American Lager teve o seu início em meados do século 19, nascida das similaridades com a Pale Lager, ainda na Europa.
No Brasil, ela chegou junto com o movimento migratório alemão e logo caiu no gosto do público, devido à facilidade de degustá-la no clima tropical predominante no país (o que também ajuda a explicar, em partes, a preferência industrial por ela).
Só que essa apresentação, ainda que correta, diz muito pouco sobre esse estilo, ainda mais diante de tantos fatos históricos que contribuíram para a proliferação dele nos Estados Unidos e em outras regiões do mundo.
Por isso, vamos fazer um rápido esforço temporal de regressar até a metade do século 19, quando os brindes já eram populares, nos bares e entre amigos, e à base de cervejas da família Ale.
O fato é que, como muitas das raízes coloniais americanas, esse estilo de cerveja também veio do Velho Continente. Foi quando os produtores de cerveja alemães desembarcaram nos Estados Unidos e diversificaram a predileção do consumidor estadunidense.
Dessa maneira, as Ales foram colocadas em segundo plano, enquanto a American Lager ia tomando forma e expandindo a sua presença em outros estados do país.
A American Lager ao redor de fatos históricos
Nos primeiros anos do século 20, a proibição de álcool nos Estados Unidos assolou a população. Como complemento, os anos seguintes ficaram marcados pela Grande Depressão norte-americana, entremeada também por duas grandes guerras que marcaram a primeira metade do século.
Consequentemente, a economia do país retrocedeu e os produtores encontraram um caminho acessível para fazer a sua cerveja: as lagers, que levavam ingredientes mais em conta nas fórmulas (além dos tradicionais, iam grãos não maltados, como o milho).
Historicamente, a American Lager foi um elemento convidativo para mais pessoas apreciarem as cervejas, uma vez que as Ales eram consideravelmente mais amargas e fortes. Por ser uma bebida refrescante e leve, a América enfrentava as difíceis primeiras décadas do século 20 com um pouco mais de suavidade em seus brindes.
O pós-guerra e a consolidação das Lagers
Nas décadas pós-guerra — mais precisamente, nos anos 60 —, a produção de cervejas se concentrou fortemente em Nova Iorque, onde o Brooklin se transformou em um informal ponto de encontro das grandes produtoras da época.
A relevância histórica disso se dá pelo fato de que 10% de toda a produção de cerveja, nos Estados Unidos, vinham do Brooklin, em uma região de 12 quadras conhecida como Williamsburg. Não tardou para ganhar o notório título de “Brewer’s Row”.
Naturalmente, grande parte dessa capacidade produtiva era dedicada às Lagers, valorizando ainda mais um estilo de cerveja que já alcançava quase um século de transformações e degustações.
Um fato curioso: ainda que as cervejarias de décadas atrás não existam mais, a região é ainda aclamada pelos aficionados pela cultura cervejeira — e pela American Lager.
Não à toa, ali foi o local em que, no ano de1987, a famosa Brooklyn Brewery foi fundada. Algo que, além de curioso, é marcante para a consolidação das tradicionais Lagers.
Isso porque os seus fundadores, Steve Hindy e Tom Potter, foram em busca de William Moeller, que tinha a cultura cervejeira em seu sangue (pois seu avô também produzia cerveja), para criar os rótulos exclusivos da empresa.
O capítulo da histórica trajetória da American Lager ganha um ingrediente extra em sua fórmula, pelo fato de que Moeller tinha em mãos uma receita antiga de seu avô. E, assim, nascia (ou renascia) uma Lager com a cara do Brooklin: a Brooklyn Lager.
Vale, ainda, mencionar que o sabor de uma receita originária do período pré-proibição do álcool, nos Estados Unidos, foi um grande destaque para dar fama à cervejaria, mas, além disso, também renovou a força das Lagers no país inteiro.
Dessa maneira, entre lendas, receitas perdidas, tradições resgatadas e novos rótulos produzidos aos montes, a American Lager respirava uma vez mais no cenário cervejeiro.
Como consequência, podemos encontrar uma série de outras cervejarias que ainda fazem uso de receitas pré-proibição e outros rótulos inspirados nesse estilo, como:
- D.G. Yuengling & Son;
- Genesee Brewing Company;
- August Schell Brewing Company;
- Victory Brewing Company;
- North Coast Brewing Company;
- Full Sail Brewing Company.
Caso a sede tenha se misturado à curiosidade em conhecer um pouco mais desse trecho da história dos Estados Unidos, achamos uma ótima experiência pesquisar (e experimentar) um pouco mais a respeito dessas cervejarias e dos seus rótulos.
As principais características de uma American Lager
A American Lager pode não ser a menina dos olhos das cervejarias artesanais brasileiras, mas as suas principais características são bem familiares à percepção geral do consumidor.
Afinal de contas, as cervejas comerciais se concentram nessas particularidades para promover os seus rótulos. Portanto, não deve ser de grande surpresa, para o leitor, saber que a American Lager é caracterizada, essencialmente, pelos seguintes aspectos:
- coloração clara e dourada;
- leve amargor;
- baixo teor alcoólico.
Esse conjunto de atributos ocorre porque, em seu processo de produção, a American Lager — e as outras representantes dessa família de cervejas — passa por um processo longo de fermentação, ficando armazenada em temperaturas baixas e por mais tempo.
Seus ingredientes não diferem, a princípio, dos tradicionais que são amplamente repercutidos pelos cervejeiros, como a água, a levedura, o lúpulo e a cevada maltada. Acontece que, não raro, adjuntos são acrescentados à mistura, como os grãos não maltados (especialmente, o arroz e o já mencionado milho).
São elementos que, ao fim do processo produtivo, revelam uma cerveja suave, de aroma igualmente sucinto e que exala sutilmente a fragrância dos seus grãos. Até por isso, dissemos que as Lagers se popularizaram entre aqueles que não bebiam cerveja.
Os poucos aromas que podem vir à tona, ao degustar esse estilo de cerveja, é o de milho ou alguma fragrância adocicada (que também é perceptível, para algumas pessoas, em seu sabor). O lúpulo é também pouco sentido — ou mesmo inexistente em alguns rótulos.
Mas, para esclarecer melhor como essa simplicidade pode se mostrar de grande riqueza sensorial e degustativa, vamos avaliar cada um desses aspectos individualmente, que tal?
Impressão geral
Famosas por serem bebidas mais leves e nem um pouco encorpadas, daquelas que pesam após alguns goles, as lagers são neutras, sem um elevado teor alcoólico e muita espuma e com uma coloração dourada, mas tão clara que beira o transparente.
Que isso, no entanto, não soe pejorativo! A ausência de uma complexidade faz dela uma deliciosa porta de entrada para o mundo cervejeiro, com peculiaridades que remontam ao século retrasado, como vimos, e um significativo impacto social nos Estados Unidos ao longo do século 20.
A American Lager é, portanto, um tipo de cerveja que se concentra menos em ser desmistificada, e mais em ser simplesmente apreciada. O que não reduz a importância de seus outros atributos, como veremos adiante.
Aaspecto visual e o sabor de uma American Lager
Pois então, se a sutileza é uma das marcas registradas desse estilo, você poderá perceber que essa característica se espalha pelos outros sentidos.
A sua própria tonalidade é um bom exemplo disso: a coloração dourada tende ao claro e límpido. Chega a ser ligeiramente translúcida, o que chama a atenção. Principalmente, daqueles acostumados a se aprofundar em tons complexos e robustos de outros estilos.
A espuma da American Lager também ajuda a fazer uma composição interessante quando servida no copo (falaremos mais a respeito disso adiante): branca, não tão espessa e nem em grande quantidade. Fica bem nas fotos e também na sensação provocada em nosso paladar.
Por falar nisso, o sabor da American Lager segue à risca a sua cartilha tradicional, não forçando a passagem pelas nossas percepções sensoriais. Pelo contrário: é leve, refrescante e combina muito bem com um dia de sol.
E, para tanto, a produção desse estilo de cerveja é especialmente pensada com esse objetivo, cabendo a responsabilidade ao já citado processo de carbonatação dela (longa fermentação em temperaturas baixas).
Assim, obtém-se um sabor levemente granulado, mas com frescor. Há quem identifique certa doçura, na bebida, em decorrência do seu amargor pouco perceptível.
Sensação de boca
Há certo consenso, entre os sommeliers profissionais de cerveja, que uma American Lager possui um corpo que varia entre o médio baixo e o baixo — característica que já mencionamos anteriormente.
Além disso, por ser muito carbonatada, ela oferece um elevado pico de gás carbônico na ponta da língua. Algo similar ao que sentimos ao beber uma bebida muito gaseificada.
Vale a pena, então, aprofundar-se em seus rótulos caso você esteja iniciando na arte degustativa. Mas ela marca presença também entre os apreciadores mais veteranos, já que é uma bebida de fácil apreciação e que se mostra versátil, acima de tudo.
Classificação do seu amargor
Por fim, vamos lembrar que o amargor da American Lager é imperceptível, quase, tornando-a convidativa para quem ainda se encontra em suas primeiras degustações.
Para entender a suavidade do sabor, vamos criar um rápido comparativo: a tradicional Pilsen das quais as cervejarias comerciais se apoiam ao rotular os seus produtos têm, no mínimo, 25 IBU (Unidades Internacionais de Amargor), podendo chegar a até 45 IBU.
A classificação, que é universalmente aceita e mantida pelo Beer Judge Certification Program Inc. (BJCP), uma entidade sem fins lucrativos, é bastante utilizada para gerar comparações e análises da milenar bebida.
Agora, quando analisamos a American Lager, podemos notar que ela possui, no máximo, 15 IBU. Uma redução perceptível, que apenas ajuda a reforçar o fato de que as cervejas comerciais são, na verdade, lagers — cuja unidade de amargor varia de 5 a 15 IBU.
Os diferentes tipos de Lager
Não existem, essencialmente, estilos dentro da American Lager. O que ocorre é uma variação de receitas entre suaas principais representantes. Talvez, por isso, você consiga ressaltar características em um rótulo que são imperceptíveis em outras marcas.
Além disso, pode-se sentir uma proximidade com a já mencionada Pilsen e outros modelos europeus, mas a Lager, por si só, já concentra uma ampla variedade de estilos.
E, para que você consiga navegar pelas complexidades sensoriais dentro dessa ampla família cervejeira, a seguir reunimos alguns dos principais estilos que você pode degustar, um a um, para tecer as suas comparações com a American Lager. São eles:
- American Dark Lager;
- American Macro Lager;
- Bock;
- Bohemian Pilsner;
- Classic German Pilsner;
- Doppelbock;
- Dortmunder;
- Dortmunder Export;
- Dunkel;
- Eisbock;
- Pale Lager;
- Premium Lager;
- Pilsen;
- Rauchbier;
- Schwarzbier;
- Steinbier;
- Vienna.
Como você deve ter percebido, não são poucas as opções que vão se desdobrar para o seu conhecimento, à medida que você entenda mais a respeito desse estilo de cerveja.
Por isso, caso nós tenhamos deixado alguma Lager fora dessa lista, que tal nos ajudar a ampliá-la gradativamente? Para isso, basta mencioná-la no campo de comentários!
Exemplos de rótulos de American Lager
Como mencionamos, existem muitas — se não todas as — semelhanças entre os nossos rótulos comerciais, distribuídos pela indústria cervejeira, e as características que dão toda a personalidade de uma American Lager.
E você deve conhecer muitos desses representantes, vamos ver alguns deles?
- Beck’s;
- Brahma;
- Budweiser;
- Coors Extra Gold;
- Coors Original;
- Corona Extra;
- Grain Belt Premium Lager;
- Heineken;
- Itaipava;
- Miller Genuine Draft;
- Miller High Life;
- Pabst Blue Ribbon;
- Skol;
- Special Export;
- Stella Artois.
Para ampliar a lista, podemos indicar também alguns rótulos de cerveja artesanal que ressaltam todas as qualidades desse estilo de cerveja, como:
- Baden Baden Cristal;
- Cauim Colorado;
- Cidade Imperial;
- Eisenbahn Pilsen;
- Itaipava Premium;
- Therezópolis.
A lista é extensa e, com certeza, muitas dessas cervejas já fazem parte do seu dia a dia e brindes. O interessante é que ela se debruça fortemente tanto em rótulos comerciais como o de grandes cervejarias artesanais.
Um exercício delicioso é o de realizar rápidas degustações com elas. Como a complexidade de uma American Lager é menor do que outros estilos, ao provar diferentes marcas você pode identificar peculiaridades que vão ajudar a aguçar os sentidos.
Os copos sugeridos para experimentar uma American Lager
Já que falamos a respeito de algumas das marcas mais populares que produzem esse estilo de cerveja, não poderíamos encerrar este artigo sem antes trazer algumas considerações para você potencializar as degustações que estiver planejando.
E, para começar, vamos falar a respeito dos tipos de copos mais indicados para degustá-la. Nesse sentido, vamos aproveitar aqueles que já são amplamente recomendados para provar uma boa Lager, em geral.
Isso significa que é importante escolher um copo capaz de segurar a temperatura baixa da sua cerveja por mais tempo — já que a regra para servir uma American Lager é: quanto mais gelada, melhor (em média, de 0 °C a 4 °C).
Para tanto, é válido escolher um modelo cujo corpo seja mais fino e tenha uma boca menor.
Parece detalhe, mas faz toda a diferença para conservar a temperatura de sua bebida gelada por mais tempo. E, entre os modelos de copos com essas características, recomendamos os seguintes:
- caldereta (que é muito similar ao característico copo americano);
- lager;
- shaker.
E, para acompanhar uma boa degustação da qual você já se preocupou em ambientar com perfeição a partir do copo ideal, que tal saber também como você pode fazer uma boa harmonização com diferentes rótulos de American Lager à mesa?
Harmonização com a American Lager
Agora que você já está mais por dentro sobre as principais características de uma American Lager, como o seu sabor leve, refrescante e com baixo amargor e teor alcoólico, deve ter ficado claro que ela é uma excelente escolha para matar a sede — especialmente, no verão.
Até por isso, esse estilo de cerveja costuma estampar as peças publicitárias durante as estações mais quentes do ano e recupera a regra para servi-la: muito gelada.
E, só com essa descrição, você já deve ter associado a American Lager a uma das grandes paixões do brasileiro: o tradicional churrasco. E ambos têm tudo a ver, afinal, o churrasco é salgado e tende a dar sede após uma rodada de carnes — ou mesmo de frangos e linguiças.
Com esse estilo de cerveja à mão, preferencialmente gelada, você se refresca e ainda mata a sede que o sal grosso deixou durante a petiscada.
Por falar em petiscos, a nossa representante da Lager faz bonito em bares, também, para as tradicionais receitas que são beliscadas com os dedos em pinça — como a batata frita.
Não se deixe limitar somente a ela, entretanto. Aproveite que a American Lager não dispõe de muitas características marcantes, que roubem a cena, e varie o cardápio para que ela seja um delicioso complemento entre petiscadas.
Consequentemente, ao falar em harmonização com esse estilo de cerveja, estamos também abrindo as portas para variações simples e até mesmo ousadas no repertório culinário.
Como a American Lager tem a ver com o nosso clima e preferências culinárias, a gastronomia regional tem muito a ganhar com um rótulo de sua preferência para acompanhar.
Ela é recomendável até mesmo para aquelas receitas menos elaboradas — mas, nem por isso, menos interessantes —, como é o caso do nosso popular cachorro-quente.
Caso você queira fazer uma rodada de harmonizações explorando as melhores características gastronômicas de outros países, experimente com:
- comida tailandesa;
- receitas condimentadas, como a gastronomia indiana;
- gastronomia mexicana;
- pratos da cozinha peruana ou mesmo de outros representantes sul-americanos.
Já deu para entender o cenário, certo? A American Lager vai bem com, basicamente, qualquer tipo de prato, pois ela não rouba a atenção e permite que você se concentre apenas complemente o sabor da receita com a sua característica suavidade.
Até por isso, vale a pena empreender uma harmonização mais refinada com queijos, podendo servir cheddar, gouda, mussrela ou mesmo o brie.
E então, deu para perceber a relevância histórica da American Lager como um acompanhamento precioso na história dos últimos 150 a 200 anos dos Estados Unidos?
Como de costume, é interessante associar a origem de diversos estilos e cervejas com os momentos históricos de seus países (vale, inclusive, a leitura a respeito da história da cerveja no Brasil, que não decepciona).
Mas, agora, com todas as informações que trouxemos aqui chegou a sua vez de colocar em prática o que aprendemos ao longo deste artigo.