Cento e vinte anos se passaram desde que a Barbour foi fundada em South Shields, Inglaterra, e suas jaquetas nunca foram tão elegantes. Como uma marca voltada para agricultores, pescadores e mato se tornou um sucesso comercial global? A empresa continua a ampliar seu alcance, trazendo novas colaborações cada temporada que passa.
Uma empresa familiar de quinta geração, a Barbour ainda opera a partir de sua sua cidade natal, e a maioria das jaquetas Country e Core Range ainda são fabricadas nesta fábrica, no Reino Unido. A história é longa, então vamos explorar alguns marcos importantes porque todo bom produto costuma começar com uma história (verdadeira).
Talvez você não conheça bem a Barbour, mas no Reino Unido, ela é referência quando alguém fala “casaco de algodão encerado”.
A sede da Barbour ainda fica em South Shields, uma pequena cidade no nordeste da Inglaterra. Foi lá que John Barbour fundou a empresa, em 1894.
No século 15, os marinheiros cobriam as velas em óleo de peixe para elas funcionarem melhor. Do tecido que sobrava, eles criavam capas impermeáveis. Embora o tecido coberto de óleo os mantivesse secos em alto-mar, havia uma desvantagem óbvia: o material fedia para cacete.
Algumas centenas de anos depois, o escocês John Barbour enxergou a necessidade de roupas impermeáveis, confortáveis e resistentes entre as famílias trabalhadoras do norte da Inglaterra, e assim nasceu a Barbour, a primeira empresa do mundo a usar o tecido de algodão encerado em roupas comerciais.
Esses primeiros produtos da Barbour eram feitas de oilcloth, uma evolução das velas engorduradas. Esse tecido resistente à água combinava óleo de linhaça e algodão egípcio.
O cliente-alvo era qualquer pessoa com água no caminho, como marinheiros, pescadores, trabalhadores das docas e dos estaleiros. Ou seja, os homens que freqüentavam a vila à beira-mar que a Barbour chamavam de lar.
Em 1908, o filho do fundador, Malcolm Barbour, lançou o primeiro catálogo por correspondência da Barbour. Esse modelo de negócio foi muito popular antes da Internet.
A ideia ajudou a empresa a desenvolver seus produtos e sua base de clientes. A Barbour logo começou a fazer casacos longos e capas de montaria para fazendeiros, caçadores de animais e outras pessoas do campo.
Mesmo sendo uma empresa familiar, a tinham uma tendência de inovar a cada geração. Quando Duncan Barbour, neto do fundador, entrou na empresa em 1928, seu entusiasmo pelas motocicletas levou à criação de uma nova linha.
Esse novo modo de transporte, acessível e emocionante, cresceu em popularidade durante a década de 1930. Em 1936, o macacão Barbour One Piece passou a ser uma peça essencial para qualquer motociclista sério.
De olho no que havia de mais utilitário, a Marinha Britânica também aproveitou os talentos da Barbour.
O Capitão George Philips, insatisfeito com o uniforme padrão do submarino HMS Ursula, encomendou roupas nova para toda a tripulação. O casaco Barbour Ursula virou o uniforme oficial para todos os membros da tripulação submarina.
Detalhe: Essa jaqueta mais tarde inspiraria uma peça importante do motociclismo!
O “One Piece Motorcycling Suit” inspirou a jaqueta Ursula, que por sua vez, inspirou uma das peças mais famosas e reconhecidas da Barbour, a International Trials Jacket.
Lançada pela primeira vez em 1951, usando o clássico tecido encerado Barbour Thornproof, ela tinha dois bolsos traseiros e um bolso diagonal no peito para acomodar mapas.
A jaqueta foi um sucesso instantâneo e praticamente todas as equipes britânicas de motociclismo vestiram Barbour pelos próximos 40 anos. No International Six Days Trial de 1957, 97% dos pilotos vestiam Barbour.
Foi dessa união com o motociclismo que veio o primeiro endosso de uma grande celebridades. Em 1964, o ator Steve McQueen, vestiu o casaco Barbour Internacional em sua participação no International Six Days Trial na Alemanha Oriental.
Naquela época, não seria exagero dizer que McQueen era o homem mais legal do planeta, e sua associação com Barbour foi fundamental para o sucesso da marca, que em 2011 lançou uma coleção em tributo ao ator.
A monarquia britânica não podia ficar de fora dessa história, e teve duas grandes participações: uma intencional, a outra nem tanto.
A primeira foi concedendo a Garantia Real para distribuição de roupas impermeáveis e protetoras, autorizando o fornecimento para a corte real. Nada mal, ser um fornecedor oficial da rainha.
A segunda maneira, mais indireta, é provavelmente o que instigou a transição da Barbour para o mundo da moda. A falecida princesa Diana foi vista vestindo uma capa Barbour, e isso estimulou muitas jovens a vestirem Barbour e outras marcas tradicionais britânicas, como Harris Tweed e galochas Wellington.
Pela primeira vez, a moda disputou com a função. Em vez de fugir dessa atenção, a Barbour aceitou o status. Os anos 80 foram muito bons para eles: o casaco equestre Bedale estreou em 1980, e a jaqueta de tiro Beaufort (com o nome de Lady Di) surgiu em 1983. Ambos foram clássicos instantâneos.
Enquanto a Barbour continuou criando novidades com sua sensibilidade do velho mundo, um novo sucesso com o público jovem veio no século XXI. A Barbour tomou o palco em Glastonbury 2007, quando celebridades como Lily Allen e Alex Turner, foram fotografadas vestindo os casacos de algodão encerado. De repente, uma nova geração correu atrás dos casacos e jaquetas, que outrora eram desejo de consumo de pastores, caçadores e marinheiros.
Fora da Grã-Bretanha, a marca também viu sua popularidade aumentar graças a uma onde na moda masculina que resgatou marcas com muita tradição. O auge desse movimento aconteceu por volta de 2010, quando após a crise financeira nos Estados Unidos, os consumidores se viram atraídos pela segurança das marcas perenes, produtos confiáveis em um mundo incerto.
Essa longevidade é impressionante. A Barbour passo de fabricante de roupas de trabalho a um forte player no mundo da moda. Com essa forte associação à bucólica vida no campo, a Barbour poderia ter ficado para trás há muito tempo. Em vez disso, até o 007 troca o smoking usava por um Barbour no filme Skyfall.
Já se fazem quase 10 anos desde que a Barbour voltou forte para a moda durante o auge da tendência heritage. Apesar dessa febre específica ter passado, seus casacos de algodão encerado continuam sendo uma das peças mais clássicas e bonitas que você pode usar nos meses mais frios. Eles combinam muito bem com um suéter e jeans para um visual casual, ou cobrindo um paletó de tweed ou terno de flanela cinza para algo mais refinado.
Antes de seguir em frente com algumas dicas de jaquetas e inspirações para usar, eu queria abrir um parêntese sobre o tecido em que os modelos mais icônicos da Barbour são feitos.
Hoje em dia, os termos “oilcloth”, “waxed cotton”, “algodão encerado” e “lona de caminhão” são usados quase que de forma intercambiável para descrever o mesmo material, apesar de diferenças reais e históricas. A Barbour fabrica roupas de algodão encerado com especificações diferentes, dependendo do uso pretendido.
Apesar da utilidade e do apelo nostálgico dessa matéria prima, polímeros modernos como o GORE-TEX® vem ameaçando sua relevância nos últimos anos. Não é nenhuma surpresa… são mais práticos e exigem menos manutenção.
Não tenho uma resposta prática. É o mesmo motivo para ler um livro ao invés de um tablet, ou ter um relógio mecânico e não um digital, ou querer chão de madeira e não de laminado. O material possui uma algo inexplicável que sua contrapartida moderna não tem.
Talvez a única vantagem seja a possibilidade de restaurar o acabamento. Basta um bloco de cera, paciência e um secador. Inclusive, a Barbour oferece um serviço parecido com a ressola da Red Wing. Remendam jaquetas usadas e revivem o material.
É por aí mesmo. Um casaco velho, um par de botas surradas, uma pasta de couro usada ou um terno antigo – são queridos e velhos amigos que valem mais a pena recuperados do que substituidos.
Comprar e possuir um casaco digno de conserto é o verdadeiro espírito. A preocupação da marca com manter seus produtos na ativa também remonta ao ideal de “comprar menos, comprar melhor“.
Imagino que um britânico que veste um Barbour está usando um pedaço de história. Assim como o símbolo da marca, acendem orgulhosamente um farol para seus antepassados.
Percorrer o site da Barbour me lembra de quanto gosto das roupas de outono no hemisfério norte. Casacos de algodão encerados; blusas grossas e aconchegantes; calças de lã pesadas; e, claro, muitas e muitas botas.
Além das jaquetas, os suéteres são notavelmente grossos e quentes. Alguns são um pouco ásperas, como os Shetlands, enquanto outros são bastante luxuosos, como as Rollneck. Você nunca saberia nada disso pelas fotos, e o marketing online da Barbour é bastante pobre. Os lookbooks até passam uma boa visão das coleções, mas as fotos na loja online são bem ruins.
Se você estiver procurando luvas resistentes e básicas para o inverno, confira as da Barbour. Embora não seja macia, a lã que Barbour usa é pesada e grossa, do jeito que você esperaria encontrar em artigos militares. É bom ter uma dessas no armário, principalmente se você gosta de viajar.
A Barbour continua vendendo jaquetas de motocicleta, como a International e a Ariel, a preços razoavelmente acessíveis. Você também encontra todas as opções country-outdoor pelas quais a marca ficou conhecida ao longo dos anos.
Sabe o que eu acho muito legal nos modelos “carro-chefe”? É que eles conseguem ir de isso:
Para isso:
É, ou não é, versátil?
No entanto, eu acho que o mais interessante é ficar no meio do caminho. Nem tão literal (motociclista) e nem tanto contraste:
Viu como tem gente de todas as idades e com todo tipo de físico?
Essas jaquetas são ótimas. Seus clássicos, o Bedale e o Beaufort, podem ser usados com calça cáqui, jeans, calças de lã e até mesmo ternos “campestres” casuais pelos quais os ingleses também são famosos.
Como lançam novos designs e colaborações a cada temporada, vale a pena lembrar: o termo “clássico” nem sempre é apenas um truque de marketing. Clássicos reais existem e são muito bons. Coloque uma Bedale ou Beaufort na sua lista de desejos!
Os japoneses, para variar, incorporam as várias jaquetas de algodão encerado ou acolchoadas com muita criatividade, buscando inspiração nas traidções de alfaiataria britânicas e no workwear:
Muitos dos produtos da Barbour são difíceis de apreciar apenas por foto. Eles não têm detalhes incomum que se destacam no Instagram ou atraem a atenção do cliente que navega uma loja on-line. Eles focam mais em projetos simples e materiais exclusivos.
As jaquetas, por exemplo, têm peso e robustez reais, e o caimento dos materiais cria silhuetas bonitas e robustas. Os detalhes são práticos e muitas vezes escondidos, e em algum momento se revelam em baixo de dobras de dobras e abas.
Uma antiga edição de inverno da revista Men’s Precious enfatiza tons complementares com pequenos pontos de cor. A minha foto favorita desse grupo é a que tem um cachecol de bolinhas, inesperado, combinando com a jaqueta Barbour International.
Se você pretende economizar para um dia comprar uma jaqueta Barbour, preste atenção nessas dicas!
Nessas horas o Google é o seu melhor amigo e o site da Barbour contém uma lista de todas as lojas que eles tem ao redor do mundo.
As minhas sugestões, e mais um alerta!
Espero que você tenha gostado de explorar um pouco da história dessa marca centenária! A Barbour é cheia de produtos verdadeiramente clássicos e além do motociclismo, remete a um ar bucólico do campo e do mar, graças a sua história utilitária que começou com os marinheiros ingleses.
Ao contrário de muitas peças “workwear” e “vintage”, elas evoluíram e amadureceram muito bem com o tempo e as mudanças em nosso guarda-roupa. Para mim, são mais versáteis do que jaquetas de couro ou chore coats em denim.
Como as fotos acima mostram, elas podem ser pareadas até com ternos e paletós. Uma jaqueta Barbour em algodão encerado é uma excelente maneira de você fortalecer seu guarda-roupa casual com um toque rústico sem apelar para fantasias.
Grande abraço!
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Lucas! Qual cera é necessária para "re-encerá-la"? Impossível de encontrar cera da própria marca no Brasil. Forte abraço!
Fala, Rafael!
Procura por cera de abelha. Eu já vi em algumas lojas sendo vendido como impermeabilizante para madeira.