Comprei umas chukkas novas da Clarks que são as mais ridículas que já comprei até agora. Eu comprei essas botas praticamente semi ortopédicas porque me lembraram a Playboy. Não a a revista, as botas chukka de camurça com sola de crepe gorduchona. Elas ficaram famosas nos pés de um outro playboy, Steve McQueen, dentro e fora dos filmes. Tem jeito melhor de justificar um sapato tão feio que fica legal do que com uma história obscura e um ator estiloso.
A bota e os sapatos Playboy original foram criados em 1930 por uma sapataria inglesa chamada Hutton’s, que declarou falência nos anos 70. Um grupo sueco comprou os direitos, que depois foram para um grupo dinamarquês, que voltou a produzir as especificações originais na inglaterra. Mesmo depois dessa dança das cadeiras, a marca de calçados Playboy ainda existe. As botas originais agora são feitas na Espanha, mas por questões de direitos de marca (Hugh Hefner), são vendidas apenas na escandinávia.
Esses calçados ingleses tiveram uma certa popularidade na Inglaterra na década de 50 e depois nos Estados Unidos, vendidas com o nome de “Players” (Hugh Hefner não era fã de desert boots), graças a conversa entre o estilo Ivy, Mods e Teds dos anos 50, 60 e 70. Eu encontrei esta foto de um Teddy Boy em 1950 calçando uma Playboy da Hutton. Os primeiros “creepers” eram derivados de calçados com solado de crepe, muito provavelmente destas botinhas e sapatos Playboy, antes de se tornarem a aberração que são hoje.
Dez anos antes O Caso Thomas Crown (1968) e Bullit (1968), com Steve McQueen e de atores como Marlon Brando, as Playboy apareceram em um outro filme chamado Sea of Sand (1958). É um filme de guerra ambientado na África, em 1940, durante a Segunda Guerra Mundial. Michael Craig e John Gregson interpretam dois soldados da Desert Long Range Patrol Group, um grupo que realizava missões de reconhecimento de terreno por trás das linhas inimigas, além de ações de guerrilha contra as Forças da Alemanhã e Itália, que enfrentavam a Grã Bretanha na luta pelo norte da África. Neste filme, todos os soldados estão calçando botas Playboy, ao invés dos coturnos militares ou as desert boots comuns. Algo parecido também aparece em Ice Cold in Alex, outro excelente filme da mesma época, que também retrata estas mesmas batalhas.
A Long Range Desert Group era uma unidade sem um uniforme definido. Cada membro vestia o uniforme das unidades de onde vieram, e a política geral era bem não conformista. Os soldados podiam comprar e usar seus próprios uniformes, e o calçado que fosse mais confortável. Foi em missões de reconhecimento no Cairo que Nathan Clark provavelmente pegou emprestado o visual da desert boot Clarks. Já que as botas Playboy existem desde 1930, pode ser que os soldados escolheram calça-la por causa do conforto. Se isso for verdade, pode ser que os soldados americanos tenham visto o sapato e começaram a usar depois da guerra.
Outra possibilidade (mais provável) é que o filme foi filmado no final da década de 50, quando as botas da Hutton estavam em alta na inglaterra, antes do pico nos pés de Steve McQueen, dez anos depois. Pode ser que na hora de gravar, eles simplemsnete substituiram as desert boots pelas Playboys da Hutton. A guerra havia terminao a pouco tempo, e é bem provável que os detalhes históricos não fossem uma das maiores preocupações do momento. Eu vasculhei alguns sites de uniformes e não encontrei exemplos com a bota, mas vi que realmente cada um usava o que queria. Mesmo assim, não deixa de ser um detalhe interessante, ou uma possibilidade histórica legal.
O design das botas pode parecer meio engraçado, mas tem um raciocínio utilitário por trás. O crepe é um produto natural, assim como o couro, e oferece conforto (devia ser incrível na época), algo bem prático. As solas não são tão grossas quanto parecem. O solado mesmo é só metade do “bife” de crepe que vemos. O resto é uma camada que cobre a lateral entressola e parte do cabedal. A borracha protege o cabedal; o modelo original da Trickers, por exemplo, era chamado de “Mudguard”. A camurça se comporta muito bem em climas gelados. Ela é fácil de manter limpa na neve fria (que não é molhada) e não tem problemas com marcas de sal, que deixa marcas no couro molhado. O crepe também se mantém flexível no frio, isola o calor, e tem um grip excelente se comparado aos compostos orgânicos da época.
As melhores ainda são feitas na Inglaterra, fora as originais na Espanha. Os modelos originais tinham uma combinação de goodyear welted com o crepe por cima que era extremamente difícil de fazer. As chukkas de crepe estilo “Playboy” da Sanders, são apenas coladas, assim como as chukkas da George Cox, um pouco mais baratas e de qualidade um pouco inferior. As duas não são baratas, então eu aproveitei a oportunidade de comprar o modelo parecido da Clarks, mesmo incorporando uma costura mocassim, que eu mostro já já. Só não consegui essa camurça marrom bonitona:
Lucas, a Pacco lançou uma bem legal.
http://www.pacco.com.br/prod,IDLoja,11021,IDProduto,3117382,botas-710cam-botinha-em-camurca-com-solado-crepe-natural
Legal mesmo. Gostei bastante.