Já entrou em um site ou loja, viu que estava rolando promoção, e comprou um monte de roupas porque estava barato? Você precisa aprender como ter disciplina! Algumas dessas roupas você provavelmente usou uma ou duas vezes e escondeu no fundo do guarda-roupa para nunca mais ver a luz do dia. Comprar no impulso pode até trazer uma felicidade imediata, mas traz também arrependimento. Para potencializar seus recursos e estar confortável com as suas escolhas por mais tempo, é preciso saber comprar roupas com inteligência.
Eu prometo que comprar o que você gosta, o que você precisa e o que você vai ter muitas chances de usar, não é complicado. Felizmente, tenho acesso a algumas coisas bem legais. Pode parecer que estou sempre gastando uma tonelada de dinheiro, mas nem sempre é o caso. Vou compartilhar algumas dicas que uso sempre que vou comprar uma bota, jaqueta, acessório ou qualquer peça de vestuário. Ao fim desse texto, você vai estar preparado para fazer o mesmo (e quem sabe ainda ganhar um trocado).
Antes de começar, um aviso. Se você está procurando um guia para construir um guarda-roupa formal, saiba que esse não é bem o objetivo aqui. O que eu quero dizer com comprar de forma inteligente é saber como investir o seu dinheiro em roupas para construir seu estilo.
Vamos lá! Aí vão algumas etapas do meu processo de compra que são relevantes para qualquer situação!
1. Entenda o que é básico e o que é “investimento”
Eu não gasto muito dinheiro com as camadas básicas, que considero essenciais. Sou feliz com camisetas lisas, brancas, pretas, azul marinho ou cinza da Uniqlo, Hanes ou Hering. No máximo, compro da 3Sixteen porque o tecido é mais resistente. São mais caras, mas duram por muito mais tempo.
Óbvio que as vezes compro uma camiseta vintage ou mais interessante, mas essas normalmente tem modelagem diferente ou estampas únicas. São detalhes que separam elas do básico e, em alguns casos, eu sei que seria capaz de vender por um bom preço se quisesse.
Já os investimentos, são aquelas roupas que você vai usar por muito tempo. Pensa num sapato clássico, ou um terno serve como traje social para sempre. Também são investimentos as roupas que custam mais do que você normalmente gasta, mas que você seria capaz de recuperar o valor se no futuro resolvesse vende-las. As vezes, consegue até lucrar.
Entenda em que tipo de roupa vale a pena gastar o seu dinheiro. Botas, sapatos, jaquetas e casacos são bons investimentos que você vai ter por muito tempo e que fazem diferença enorme no look. Camisetas, e até camisas sociais, são peças básicas essenciais. Calça jeans pode ser os dois. Normalmente, não gasto tanto dinheiro assim com elas. Mesmo comprando raw denim, procuro ficar nas marcas intermediárias. E mesmo assim, elas tem cortes que gosto muito e são roupas que eu não vou precisar repor por muitos anos.
Recentemente, por exemplo, eu vendi algumas calças e jaquetas que tinha há quatro anos. Gosto de usar sites como Enjoei e principalmente os gringos, como Depop. Uma delas eu comprei por $250 e vendi por $180. Nada mal após três anos de uso, não acha? Se quiser conferir o que tenho a venda, pode acessar minha lojinha no Enjoei ou então a loja online do blog.
Isso me leva a próxima dica…
2. Compre vintage/usado
Bem, não tem muito o que explicar.
Se você procurar em sites de leilão, vintage shops, etc, consegue encontrar algumas roupas contemporâneas bem legais por uma fração do preço e também encontra peças antigas que são praticamente únicas!
3. Se for comprar roupas caras é tente escolher as “memoráveis”
Bem, compre o que você quer né? Se você gosta, compra e pronto. Mas e se fosse possível ter seguro contra arrependimento?
Essa dica é complicada porque ela demanda bom olho para moda e bom entendimento do mercado. Comprar roupas memoráveis é tentar entender o cenário da moda e enxergar potencial de lucro em toda compra, ou pelo menos ver se o produto tem chance de reter parte de seu valor original.
Tem coisas que as pessoas compram para usar seis meses/um ano até a moda mudar. Mesmo que você tente vender não vai ser possível recuperar a grana, e é assim que funciona a maioria das fast fashion. É uma das principais razões para eu evitar comprar nesse tipo de loja. É como jogar dinheiro na privada. Você gasta sua grana para cansar do produto um ano depois. Eu não consigo vender uma jaqueta da Zara. A solução é doar (ótimo) ou jogar fora (triste).
Se você esperar um pouco, economizar, e comprar uma roupa bem escolhida você vai usar por mais tempo. Não vai cansar dela com tanta facilidade, e caso canse, pode vender pelo que pagou. Dependendo da marca e da roupa em questão, ela pode até mesmo valorizar. Não estou dizendo que você deve sempre comprar pensando em vender. Eu sempre compro para curtir o produto, mas nunca se sabe quando seu estilo vai mudar ou quando você vai achar algo melhor. Se isso acontecer, é sempre uma boa poder passar o que tem para alguém que vai aproveitar mais.
Eu sei que a maioria das coisas que tenho, daqui a cinco ou dez anos, eu posso facilmente vender e recuperar boa parte do meu dinheiro. Até algo simples como uma bota Red Wing eu consigo vender por 50% do que paguei, seis anos após ter comprado.
4. Não achou aqui? Procura lá fora
Na falta de opções no Brasil, a solução é comprar de fora.
Recomendo esperar as várias épocas de grandes promoções que acontecem nos EUA e na Europa (Summer Sale, Spring Sale, Winter Sale, President’s Day, Thanksgiving, Black Friday, Cyber Monday, etc). Pense que com 50% de desconto você já compensa o imposto caso seja taxado.
As melhores promoções são nas lojas de departamento grandes. Essas lojas lidam com pressão maior no estoque e precisam rodar as mercadorias. Quando viajar para grandes centros urbanos, procure por Sample Sales. Jogue no Google “Sample Sales + o Ano” e você pode encontrar vendas de amostras e estoques de fábrica a preço de banana.
Mesmo com impostos e sem desconto, ainda pode sair mais barato comprar online também. Se precisar de ajuda, mande um e-mail para lucas@soqueriaterum.com.br
5. Pra um entrar, outro tem que sair
Bem simples. Sempre que eu quero muito um produto caro, eu dou uma olhada no meu guarda roupa para ver se posso trocar por outra coisa. Se não tem nada para tirar, quer dizer que já tenho muita coisa para usar. Então, eu evito comprar.
Antes de comprar, eu tento vender algo que já tenho para abrir espaço e juntar um pouco de dinheiro. Eu realmente tento colocar o mínimo possível de dinheiro em roupas. Normalmente, completo apenas uma parte em cima da grana do que vendi. Abro espaço para o novo vendendo o antigo, e quem sabe ainda lucro um pouco.
6. Conheça o seu estilo
Qual o seu estilo? Workwear? Vintage? Anos 70? Sportswear? Athleisure? Só usa preto?
Formular o seu próprio estilo leva tempo, e ele pode passar por mudanças, mas eu estou sempre muito atento a isso. Procuro me policiar, para entender se estou comprando o que realmente se encaixa no meu estilo, ou se me empolguei com alguma referência que vi ou quero porque alguém disse que é legal.
O ideal é que você consiga combinar tudo que compra com a maior parte do que já possui. Evite comprar qualquer coisa que não combine pelo menos com 3 calças/tênis/botas/camisas/etc que você já tem. Para fazer isso, é interessante girar ao redor de alguns estilos que conversam bem entre si, ou até mesmo começar limitando as cores que usa até se sentir mais preparado para aumentar a variedade.
Use aplicativos se tiver dificuldade, principalmente se tem um guarda-roupa enorme. Tem apps como o Snupps onde você pode criar prateleiras com as coisas que tem. Tira foto do guarda roupa e deixa armazenado lá como referência. Elimina o risco de comprar uma coisa muito parecida com o que tem ou de comprar algo que não tem nada a ver.
7. Concentre-se no produto
A primeira coisa que tento fazer quando quero uma roupa é me concentrar no produto, e não na marca. Se você viu um produto na internet ou qualquer outra referência, preste atenção nos detalhes e entenda porque gosta do que viu.
Depois, gosto de entrar em várias lojas para pegar e experimentar. Comparo o design e descarto no caso de ser muito diferente do que eu tinha na cabeça. Não basta ser da mesma cor, sabe? Depois eu comparo o preço, os detalhes, a qualidade e o caimento até achar a opção que mais me agrada.
Eu busco controlar meus impulsos. As vezes, vejo uma coisa legal e quero comprar mas só está disponível fora do Brasil. Já aconteceu de eu procurar uma opção parecida em uma loja nacional que, por conta de algum detalhe, acaba não sendo exatamente o que eu queria. Normalmente vai para o fundo do armário.
Tem hora que é melhor não comprar do que comprar o parecido que não é o certo.
8. Valorize o seu dinheiro
Você achou um produto com o estilo que procura, mas está na dúvida porque a fabricação é muito podreira? Estou falando de costuras tortas, material fraco, acabamento mal feito, etc. Se for este o caso, eu não compro.
Não me sinto com a vontade com algo muito mal feito. Sei que não vai durar, e prefiro pagar um pouco mais por um produto que dura um tempo razoável, principalmente se for uma roupa clássica. É melhor comprar uma vez do que viver procurando substitutos.
Agora, se é podre mas barato e você vai usar, manda ver.
9. Adeque sua exigência ao preço
Você não pode jamais cobrar a mesma entrega de dois produtos em faixas de preço diferente. A medida que o preço sobe, eu vou ficando mais exigente com a qualidade e também com os detalhes.
O método de construção e os materiais não são as únicas coisas que fazem valor um preço. Muitas vezes, o fato do design ser único já tem enorme valor, mesmo que a qualidade seja mediana. Isso é o caso com muitas roupas de estilistas. É preciso entender o que valorizar na moda masculina (esse link tem um post legal sobre as diferentes propostas de valor).
Lembrando que, a partir de certo ponto o preço fica muito difícil de justificar de forma prática. Um sapato de R$ 10.000 não vai durar 10 vezes mais do que um sapato de R$ 1.000. Chega uma hora que o valor passa a ser uma questão do que você valoriza em uma compra. Alguma característica que vale muito para você.
10. Preste atenção no caimento, acima de tudo!
Normalmente, quando um produto é mal feito ele não veste bem. A qualidade do tecido afeta muito o caimento, e o material errado faz aquilo que você tem em mãos não vestir como as fotos de inspiração que você salvou. Não adianta a peça ser igualzinha, com os mesmos bolsos, mesmas costuras, mesma cor, e ficar uma desgraça no seu corpo.
Se for esse o caso, eu prefiro esperar. Não adianta comprar o que tem forma mas não tem função. Se for uma tendência, vai passar e não vou morrer por causa disso. Se for algo atemporal, a minha paciência costuma me recompensar. Compro quando viajo ou quando a “moda” chega aqui e aparecem coisas melhores.
Outro jeito de pensar é que se você estava disposto a gastar R$ 200 em algo naquele ano, e não gastou nada, pode ir acumulando para gastar mais no futuro, nem que apenas no juros da poupança!
11. Saiba o que dá para salvar
Nem tudo está perdido se um produto não veste bem. Você nunca deve descartar de primeira. Se o produto tem fabricação decente, mas só é “ruim” porque não vestiu bem, poucos ajustes podem bastar para transformar exatamente no que você quer.
Se for uma roupa que eu tenho certeza que vou usar bastante, analiso quais os ajustes necessários para deixar ela do jeito que eu quero. Vejo se:
- É possível alterar
- Se vale a pena levar para para um alfaiate ou se ficaria muito caro
De modo geral:
- Você pode apertar a cintura das calças até certo ponto, e também ajustar a largura e comprimento da perna. Pode sempre apertar, mas nunca alargar.
- Camisas são fáceis de ajustar no comprimento e também na largura, pelas laterais ou costas. Mexer no ombro é um pouco mais complicado.
- Jaquetas e paletós são tranquilas de ajustar na largura e também no pescoço. Fica mais complicado mexer no comprimento por causa dos bolsos. O ombro difícilmente vale a pena.
12. Tenha um “amigo” alfaiate (e leve fotos)
Importantíssimo! Aliás, fundamental para quem gosta de comprar coisas usadas ou vintage. É uma maneira incrível de economizar. Se você tiver a manhã do que pedir, consegue transformar o mais básico em algo super atual.
Uma costureira basta para alterações simples, mas para coisas complicadas eu recomendo o alfaiate. Pela minha experiência, uma costureira é capaz de unir muito bem todas as partes, mas o alfaiate ou a/o modelista experiente tem uma visão melhor de como essas partes interagem.
Nós somos os arquitetos, com a função de definir o estilo e a forma do projeto. Por isso, na hora de pedir uma alteração é uma boa levar uma foto do caimento que você quer. Alfaiates e costureiros são mais velhos e costumam ser bem cabeça dura. É bem melhor mostrar do tentar discutir, já que cada um tem sua preferência.
13. Saiba as suas medidas (e não tenha vergonha de perguntar)
Comprar online é muito arriscado no Brasil, mas felizmente a nossa legislação é super protetora e você tem até 7 dias após a entrega para devolver qualquer coisa.
É muito raro os sites nacionais listarem informações de medidas e descrições completas. Sempre mande um e-mail para a loja pedindo essas informações. Com as medidas em mãos, compare com algo do seu armário.
Os números não precisam ser exatos mas você consegue ter uma ideia de como vai vestir. Gosto de saber de que é feito para imaginar como é o caimento do tecido. Sei todas as minhas medidas e com o tempo aprendi a entender como certos materiais vestem. Agora, consigo determinar se a roupa em questão tem as proporções. corte e caimento que procuro.
Essas são todas as dicas que consegui pensar. Nem sempre é possível pensar de forma tão racional, mas consegui montar um guarda roupa versátil e fácil aplicando essas dicas ao longo dos anos. Me sinto super a vontade combinando tudo o que tenho, minimizo os erros e consigo abrir espaço para o novo sempre que faço uma descoberta. Espero que tenha gostado da lista, e que ela de alguma forma te ajude a escolher melhor o que você compra.