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Entrevista com a Pine Ax: Feito a mão, feito com o coração

Pine Ax

Hoje vamos conversar com mais uma pessoa por trás de uma marca muito legal, a Juliane Machado da Pine Ax.

A Pine Ax reúne o amor pelo couro e a vontade de desenvolver um trabalho manual e a fixação feminina por bolsas. As bolsas e acessórios oferecem ao público, principalmente feminino, a opção de comprar algo simples e bem feito. Algo que não é muito comum na moda feminina.

O que motivou a Juliane foram experiências de uma vida inteira. Grande passo do processo é executado à mão no Sul do país. A nostalgia por uma infância ao ar livre, existe em um antigo espaço em Curitiba, isolado do cotidiano frenético.

Espero que gostem da entrevista, e não deixem de seguir a Pine Ax nos links listados no final deste texto.

Oi, Juliane, tudo bem? Obrigado por conversar comigo sobre as suas maravilhosas bolsas feitas no Brasil. Você pode nos contar um pouco sobre como começou a Pine Ax?

Eu que agradeço. Que delícia já começar a entrevista com um elogio de alguém que entende dos produtos que desenvolvo e admira a mesma estética e cultura que admiro.

A Pine AX surgiu logo após eu ter me tornado mãe, quando resolvi voltar para o mercado de trabalho. Minhas antigas aspirações já não me satisfaziam. Reuni meu amor por bolsas e meu fascínio pelo couro com o estilo e conceitos que acredito e me agradam, e assim, a Pine nasceu.

A marca foi criada há menos de um ano e já tem vários tipos de bolsas e mochilas. Como é o seu processo de criação? Tem alguma época ou algum estilo que você tem como referência?

A Pine AX surgiu há um ano, mas já estou trabalhando nela há três, portanto os produtos foram concebidos há mais tempo. Nesse período, eu já fiz vários projetos: alguns se concretizaram e outros foram deixados de lado. De vez em quando, retomo alguns deles e, dessa maneira, nascem mais produtos. A estética da Pine AX é influenciada pelo minimalismo e atemporalidade.

Como é o equilíbrio entre a bolsa – um objeto de desejo e consumo implacável – e a filosofia da Pine Ax, completamente oposta?

Apesar da época de consumo frenético e a facilidade de compra que estamos vivendo, aposto em um público que não quer um produto descartável, e sim em algo durável, que se embeleza com o passar do tempo e ganha a personalidade e a história de cada um.

A bolsa, objeto de desejo, é um signo da nossa filosofia de consumo consciente, estilo pessoal e de vida e comportamento. Claro que adoro bolsas, como boa parte das mulheres, pelo encantamento, mas também pela necessidade, utilidade e versatilidade. As bolsas foram uma escolha viável pra transmitir a nossa filosofia, mas poderia perfeitamente ser algum outro objeto também.

Pine Ax

Pine Ax

E por que o couro? Qual a sua primeira lembrança de contato com o material? 

O cheiro do couro me trás essa deliciosa nostalgia de vida simples do interior do Paraná, de banho de rio, de fruta do pé. Eu escolhi o couro porque adoro o material. Meu avô curtia as peles e eu acompanhava o processo quando criança. Durante o processo o cheiro não era tão bom assim, mas o resultado e o odor final apareciam como um alívio e me encantavam.

O texto do site é muito real, realmente quando fecho os olhos ainda consigo sentir o cheiro forte da madeira, do capim e das flores – um aroma muito característico, que agradava. Minhas lembranças mais remotas da infância me levam a um universo rústico, mais precisamente ao Sudeste do Paraná, onde nasci e cresci. Descendente de alemães e italianos, fui criada subindo em árvores e brincando nos rios.

Sempre tive um contato muito profundo com os animais e a natureza. Por isso, a despeito de todas as minhas idas e vindas, não foi surpresa quando minhas intenções e pensamentos me levaram a um antigo espaço em Curitiba, onde estabeleci o atelier da Pine AX. No meu cantinho em Curitiba reuni o melhor dos mundos: o amor pelo couro, uma fixação tipicamente feminina por bolsas e a vontade de desenvolver um trabalho manual.

O couro me lembra o amor, as minhas inocências, a criatividade, a sensação de ser cuidada com carinho. Todas aquelas sensações e sentimentos da infância que por vezes, neste mundo com ritmo tão frenético e enlouquecedor, acabamos por esquecer.

As experiências ficam marcadas na nossa vida, e acho que nenhum material compartilha tão bem este conceito quanto o couro, que também muda com a gente. Tem algum couro específico que você usa, e quais qualidades influenciaram na escolha do material?

Utilizo o couro pecus. É um material ótimo de trabalhar, uma pele que fica muito bonita com o tempo. Mas já testei outros tipos de materiais que no futuro pretendo utilizar. A origem da matéria prima é algo que influencia muito também, gosto de saber a origem de tudo o que consumo ou que oferecerei para consumo.

Pine Ax

Você tem alguma formação em design? Eu achei muito interessante que os vídeos de marcas estrangeiras te ajudaram no seu processo de aprendizado. Pode citar algumas marcas que te ajudaram ao longo do caminho? Algumas que você admira em especial?

Fiz faculdade de pedagogia, mas o que me realiza sempre esteve englobado pelo universo da moda, sempre gostei de costurar e cresci entre máquinas de costuras, acredito que seja uma herança de família mesmo. Decidi, então, aprimorar meus conhecimentos em um curso de Design de Moda em Curitiba, o Centro Europeu, mas também aprendi muita coisa em vídeos.

Uma marca que eu admiro é a The Ashdown Workshop Co. Eles trabalham muito dentro do conceito handmade e com uma estética que admiro.

Todos os seus produtos parecem feitos com materiais de qualidade, e pelas imagens, tem um acabamento que reflete anos de experiência. É você que faz todo o processo? 

Eu já errei e ainda erro muito. Já abandonei projetos no meio do caminho e às vezes nada sai como eu imagino; mas vou fazendo. Refaço, recomeço do zero quantas vezes forem necessárias. A sensação de fazer uma peça e ver que deu certo é maravilhosa, semelhante de quando encontro alguém na rua usando uma bolsa feita por mim.

Para aperfeiçoar o meu trabalho me utilizo da prática! Existe quase que um romance para o desenvolvimento de cada bolsa. Acho que todas as fases do trabalho (da concepção até o resultado final) são marcantes. No início todas as criações deram errado, a ponto de eu cogitar a possibilidade de desistir. É um processo de tentativa e erro com aperfeiçoamento constante. E sim, quando termino o piloto de um modelo e chego a um resultado final satisfatório e começo a reproduzir pra valer é uma glória.

Bolsas de couro artesanal Pine Ax

Olhando para a Pine AX hoje: Do que você mais se orgulha? Quais foram os maiores desafios?

Olhando para a Pine AX hoje, sinto muito orgulho em ver meus produtos prontos e sendo consumidos, além da simpatia que pessoas com um gosto admirável sentem pela marca. Me agrada esta troca e admiração mútua, empatia entre a marca e pessoas interessantes.

Quando olho para minha primeira bolsa, a sensação é incrível: eu já a usei muito e ela está macia, linda! Ainda tenho muitos desafios, manter a marca e ser fiel ao conceito e DNA dela é um deles, pois não é uma tarefa fácil – mas que venham todos. Cá estou eu, de peito aberto.

Olhando para frente;como você vê a Pine AX no futuro? 

Vejo a Pine AX como uma marca que desperta novas sensações, adoraria que fosse reconhecida por muitas pessoas que entendem e consomem o conceito dela. O perfil da Pine AX não é de uma grande empresa, e por isso não nos vejo produzindo em grande escala, portanto existe sim um limite. Mas quero ampliar sim, fazer novos produtos… pretendo desenvolver malas de viagem, sapatos e produtos menores e mais acessíveis como carteiras e cintos.

E as máquinas vintage que são usadas na fabricação? O que te levou a utilizar essas máquinas antigas?

Eu escolho as máquinas mais antigas porque adoro peças vintage, a começar pela estética e pela sensação de reutilização e operar algo que tenha historia. Eu me preocupo com reutilização dos objetos, da mesma forma que incentivo o meu público a ter este tipo de comportamento. Mesmo que demandem mais manutenção, as máquinas vintage são extremamente fáceis de operar e fazem com que o acabamento da costura fique lindo.

Você coleciona alguma coisa? Eu vi que seu espaço de trabalho é cheio de miudezas!

Gosto de estar envolta a objetos úteis e belos, máquinas, malas vintage, potes de vidro reutilizados (gosto de guardar as ferragens que utilizo nas bolsas), plantas e flores (amo Orquídeas). Tudo o que me insere nessa atmosfera que imprimo na Pine AX me agrada o olhar e alma, são pequenezas que romantizam a minha rotina mas não chegam a ser uma coleção.

As bolsas da Pine Ax são produtos para durar e para serem herdados. Quais são algumas coisas que foram passadas para você?

Herdei principalmente peças de roupas das minhas avós. Tenho um casaco de pied poule, por exemplo, que adoro, e ganhei de uma delas. Ahhh é claro que tenho máquinas de costura também. As coisas, independentemente do que sejam, ganham significados e sentimentos quando são passadas para frente e não simplesmente descartadas. Se foram passadas para frente é porque tinham algum valor emocional.

Tem alguém que pode indicar para uma próxima entrevista?

Eu indico o Roberto Arad para uma próxima entrevista. Eu sou fã do trabalho que ele desenvolve, é um designer/estilista Curitibano com uma alfaiataria bem atual e contemporânea, porém atemporal, e está há muitos anos no mercado com um produto diferenciado e com um conceito slow fashion e histórico interessante.

Obrigado Juliane e obrigado a você que está lendo! Deixem seus comentários e perguntas aí em baixo, e também sugestões e ideias para futuros bate-papo. Conheçam mais sobre a Pine Ax no site deles: Pine Ax. Vocês podem seguir o trabalho também pelo Instagram @pineax_leathergoods ou pelo facebook/PineAxStudio. Curtam e compartilhem!

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