Entrevistas

Tudo Sobre a Cutterman – Entrevista com os Fundadores

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Cutterman Co é uma empresa 100% brasileira fundada em Curitiba. A especialidade dos caras é produzir os melhores produtos masculinos em couro e lona. Os dois fundadores da marca, Rafael Matheus e Gustavo Oliveira, toparam compartilhar a história dessa empreitada. Nesta entrevista está tudo o que você precisa saber sobre a Cutterman, sua trajetória de sucesso, filosofia de marca e planos futuros.

Funcionou?

Eu acho muito inspirador. Há algo de interessante no couro. A durabilidade do material é incrível e a transitoriedade de sua aparência é belíssima.

Os produtos feitos de couro não são projetados para o breve momento em que saem novos da caixa. Eles são efêmeros, feitos para anos de uso e abuso.

O desgaste do couro é esteticamente agradável. Sabe como é: Quanto mais usado, melhor. Com o passar do tempo o couro revela a verdadeira beleza.

Entre os produtos da Cutterman estão carteiras de couro, capas de couro para iphone, mochilas de lona, bolsas para fotógrafos, alças para câmera, malas de lona encerada para viagem, pastas de lona encerada e vários outros que completam a vida de um indivíduo explorador e inquieto.

O valor desses produtos está justamente em sua fabricação simples e no lento processo de uso e desintegração, que traz recordações e uma sensação de nostalgia.

Agora, com a palavra, as melhores pessoas para nos contarem tudo sobre a Cutterman!

Oi Rafa, oi Matheus. Pelo que eu li, vocês dois já se conheciam antes de fundarem a Cutterman. Qual é o “background” de cada um?

Eu e o Rafa cursamos Publicidade e Propaganda na mesma instituição. Depois de formados perdemos o contato e fomos nos reencontrar alguns anos depois, principalmente por causa da paixão pela motocicleta.

E o que os motivou a criar a Cutterman?

Acho que quando se chega perto dos 30 você começa a amadurecer de verdade e  a repensar uma porção de coisas. Estávamos em momentos de reavaliação da vida profissional e queríamos gastar nossa energia e o nosso trabalho pra construir algo nosso.

Juntamos nossas frustrações como consumidores para oferecer algo que não estávamos encontrando aqui no Brasil.

Quanto tempo a marca já tem de jornada?

Nós sempre tivemos os mesmos interesses e gostos parecidos, acho que a Cutterman nasceu naturalmente, há menos de um ano, justamente por causa disso.

Em vários países do mundo o consumidor está voltando a valorizar o processo manual, mas no Brasil o que está por trás do produto final quase sempre é um mistério. Além disso, quando um produto é chamado de artesanal ele costuma ser visto como algo que compramos na feirinha. Vocês acham que esta situação está começando a mudar no Brasil e vamos passar a prestar atenção na origem do produto e nos métodos de fabricação?

Embora seja a melhor definição para a nossa processo de produção, particularmente a palavra artesanal não me agrada por trazer justamente essa conceito deturpado de um produto comprado na feira e de baixa qualidade.

Eu acho que a mudança já começou,  porém não dá pra comparar. Na Europa, por exemplo, as pessoas consomem arte e cultura em uma outra escala e acho que isso está diretamente ligado a valorização deste tipo de trabalho.

Sinto que já temos um público sedento por isso aqui no Brasil. As pessoas estão começando a ficar cansadas da superficialidade das coisas. Elas não querem apenas produtos, elas querem histórias, histórias que elas também possam contar.

Vocês falaram em frustração. Tenho visto várias pequenas marcas nacionais com produtos e idéias parecidas com marcas de fora. Vejo isso da mesma forma que vocês: uma frustração do consumidor nacional. Pessoas que decidem fazer com as próprias mãos um produto que não conseguem encontrar aqui. Mas não é fácil! Como foi a decisão de começar uma marca do zero?

Eu acho que isso se aplica pra gente, mas são poucas pessoas que dão a cara pra bater. É uma decisão difícil de abandonar tudo e iniciar algo do zero, principalmente naquelas casos em que se mergulha num mundo completamente novo.

Falando mergulhar numa ideia… A identificação com a moda parece ser mais fácil para os homens quando há um processo interessante ou finalidade por trás do produto. Estou certo em imaginar que todos produtos da Cutterman tem a ver com o estilo de vida que levam?

Você está completamente certo! A Cutterman é de certa forma uma o extensão do que somos hoje e do que vivemos até agora. Podemos dizer que por conseqüência disso ela se tornou uma marca mais masculina, apesar de assumir essa personalidade, não queremos deixar oferecer ao público feminino produtos que permitam a oportunidade de vivenciar isso.

O trabalho em couro é tão antigo que é quase impossível criar um produto realmente original. No momento vocês tem produtos únicos e se preocupam com o processo de fabricação. Certamente virão as cópias com atalhos na produção e enormes orçamentos de publicidade. Como vocês enxergam isso?

Veja, muito do que fazemos aqui vem de referencias de coisas que estão acontecendo lá fora. Criar pra gente é adequar, misturar e melhorar as coisas que já estão ao nosso redor, não dá pra querer reinventar a roda todo dia. Atualmente com a internet a possibilidade de um cara do outro lado do mundo copiar amanhã um produto que concebemos hoje é praticamente certa.

Acho que outros fatores como matérias primas, e o valor agregado da marca é que podem fazer a diferença na experiência de consumo. Justamente por não termos foco em tendência de moda é que temos que estar sempre preocupados em oferecer produtos que supram as necessidades de nossos clientes e que sejam elegantes ontem, hoje e amanhã. O Couro é antigo e nobre e não é todo mundo que entende e valoriza isso.

Pra mim o  “feito a mão” transmite uma idéia de melhoria constante. Quando alguém tem paixão, busca sempre aprimorar a sua capacidade. Vocês começaram a trabalhar com o couro, e fazem todas as etapas da produção? Como foi a progressão?

Tudo é feito aqui, desenvolvimento, corte, colagem, costura, acabamento, e posso te afirmar que as carteiras, cintos, e alças que fazemos hoje são muito melhores do que as primeiras que produzimos.

Pra gente o processo manual é muito prazeroso, é como um voltar no tempo, um resgate antropológico de quando o homem construía as coisas com as próprias mãos.

Fazemos tudo com muito amor e dedicação e acho que é por isso que estamos começando a colher os resultados desse projeto.

Vi no vídeo que utilizam máquinas para costurar. Como é este relacionamento entre a tecnologia e o artesanal? Porque vocês acham importante manter o máximo do trabalho manual?

Achamos que o “feito a mão” está mais ligado a uma filosofia do que necessariamente ao processo como um todo.

Alguns níveis de acabamento ficam muito prejudicados se você abrir mão de usar a tecnologia a seu favor. Acho que se deve encontrar o equilíbrio entre sua proposta, sua capacidade de produção, a qualidade do produto.

Existe também uma falsa impressão sobre costura manual e costura na máquina: Posso te afirmar que é muito mais difícil controlar o ponto de uma máquina no couro do que passar uma agulha manualmente, buraquinho por buraquinho, pois na máquina se a agulha bater um ponto errado você perdeu a peça toda numa das últimas etapas de produção.

Voltando ainda mais no processo…o couro que vocês usam é especial?

Sem dúvidas esse é um dos nossos grandes segredos. Posso te dizer que trabalhamos com curtumes grandes e pequenos e que a maior parte das peles é feita especialmente para nossa marca no que diz respeito a cor, brilho, maciez, etc. Tudo influencia, da raça do gado, ao tipo do curtimento. Cada produto pede um artigo que reaja de uma forma específica.

O conceito da marca sempre foi o de utilizar apenas o couro legítimo pelo valor agregado que tem, pela sua durabilidade, e por acreditar que materiais sintéticos ao longo da cadeia agridem mais o meio ambiente. Só o couro tem a capacidade de ganhar o que carinhosamente chamamos de “horas de bolso”que acaba deixando o produto ainda mais bonito ao longo dos anos de uso.

Vocês não listam o tipo couro utilizado na página dos produtos. Inclusive, essas informações de matéria prima são raras em sites de e-commerce nacionais. Vocês acham que esse tipo de informação não é tão relevante para o consumidor?

Legal essa pergunta. Trabalhamos com peles curtidas no vegetal, que é o curtimento mais nobre que existe.

Na verdade não colocamos essa informação por achar que, diferente do que acontece nos EUA e na Europa, o Brasileiro ainda não chegou nesse nível do conhecimento do couro. Acho que vamos colocar a partir de agora.

Vocês pretendem explorar e diversificar a oferta de materiais no futuro?

Nossa proposta agora é de explorar outros materiais naturais como a lona de algodão.

Observação: Hoje a Cutterman já trabalha muitos produtos em lona, nylon, e até mesmo lã. A marca cresceu muito desde esta entrevista!

A lona também adquire as “horas de bolso!”. O site da Cutterman é em inglês e português.  A idéia é atacar logo o mercado internacional?

A idéia é de até o final do ano já estar vendendo para fora do Brasil.

A marca também tem sido destaque em várias publicações. Como vocês enxergam o equilíbrio entre a o crescimento da demanda e filosofia slow fashion?

Acho que cada momento é um momento. Por enquanto estamos conseguindo nos manter dentro da nossa proposta. Mas é certo que essa hora irá chegar, e nesse momento com certeza vamos precisar aumentar a equipe.

É legal ver vocês entrando com tudo na internet. O que vocês acham do crescente debate entre os modelos de negócio, com vendas diretamente ao consumidor e o modelo tradicional de vendas para atacado?

Depende do segmento, da marca, do produto e do posicionamento. Acho uma estratégia válida quando você não compromete o seu parceiro comercial alinhando as políticas de preço.

Hoje nosso foco é a internet!

Para terminar, algum produto por vir que vocês estejam especialmente animados para lançar?

Temos alguns! Nos próximos dias um avental em lona e couro para o trabalho, que já tirou o fôlego de muito marmanjo por aí.

Teremos também um modelo de bracelete em couro bem robusto, e ainda um projeto de um estojo para relógios.

Outros projetos em parceria com outras marcas também estão em desenvolvimento.

Obrigado e aguardo ansiosamente!

Pessoal… espero que tenham gostado. Foi muito legal conversar com as duas mentes por trás de uma marca tão legal. Tá aí, tudo sobre a Cutterman!

Você pode conhecer mais sobre a Cutterman Co nas minhas reviews, onde testei alguns produtos. Se estiver em São Paulo eu recomendo uma visita na loja da Cutterman em Pinheiros.

Reviews de Produtos Cutterman

Desde que fiz essa entrevista eu já comprei alguns produtos da Cutterman. Para saber mais sobre cada um, clique no link para o post de review:

Ver Comentários

  • A marca parece promissora apesar da oferta ainda ser tímida. Vou comprar 2 braceletes e 1 porta-cartões apesar de achar que, além do detalhamento maior sobre o couro usado, é preciso melhorar (bastante) as fotos que ilustram os produtos. Obrigado pela dica, Lucas.

    • Isso é verdade Augustuzs, mas estão apenas começando. Acho que tem tudo para seguir um caminho bem legal.

      Eu comprei uma carteira. Já estou usando e depois também vou postar aqui. Depois me fala o que achou dos outros produtos.

  • Comprei uma carteira Anchor deles bem no começo da marca. Pensa em um artigo foda!

    Cada dia mais lindo.

    Abs!!

    • Tenho uma Music Man, versão 1.0 que nem existe mais. São demais mesmo!

  • É curioso como essas marcas quase todas provém da iniciativa de jovens da classe alta. Suscita a questão da viabilidade financeira das empresas de produtos de alta qualidade aqui no Brasil, já que o mercado é limitado, e o dinheiro das famílias, muitas vezes, é o que mantém essas lojas, pelo menos em boa parte da fase inicial. Será que um dia será possível difundir, no Brasil, o gosto e a apreciação de produtos excelentes sem que seja necessária essa retaguarda financeira?

    • Oi Cesar. Tem algumas marcas que são iniciativas de artesãos que não provém da classe alta. Estou um pouco por fora no último ano, mas consigo citar a Outsider e a Dreher como exemplos de pessoas que fazem o produto e criaram uma marca. O problema é que o preço não fica tão acessível quanto lojas mais baratas. Assim, fica difícil para a maior parte da população - que não tem nem comida - consumir. Por isso, acredito não ser apenas uma questão de gosto.

      Vivemos em um modelo de economia material tão acelerado que a gente deposita nossas possibilidades de experiência de vida no consumo de mercadorias. "Nada é impossível", "Só faça", "Junte-se a nós". É sempre uma mensagem que é vinculada com a possibilidade de você ser alguém através do consumo de alguma coisa. Acho que se um dia a sociedade conseguir se revoltar contra esse modelo, veremos meios de produção e consumo mais saudáveis sim!

      Torcendo.

Publicado por
Lucas Azevedo