Pausa nos posts de viagem para dizer que tá rolando em SP: Casa Levi’s. Um espaço cultural em Santa Cecília de entrada gratuita e com um calendário recheado de exposições, festas, shows, yoga, sessões de cinemas e muitas outras coisas que permeiam pelo lifestyle da marca americana, incluindo uma lojinha com produtos LVC a preços especiais.
A LVC é a Levi’s Vintage Clothing, divisão vintage da Levi’s que reproduz os produtos do passado, explorando a riquíssima história da marca. Os jeans, calças 501 históricas, são feitos nos Estados Unidos e a maioria das roupas em Portugal. Vou aproveitar a deixa do evento para fazer um review do 501 de 1933, ano em que o jeans supostamente deu adeus aos suspensórios.
O Levis 501 de 1933 tinha passadores para cinto, mas ainda tinha a fivela ajustável e os botões para suspensórios, proporcionando mais de um jeito de usar as calças. O corte da perna é o mais largo entre todos os 501, refletindo a moda da época, apesar da reprodução moderna ser um pouco mais estreita. A cintura também é bastante alta, boa para quem gosta de usar a calça para dentro. Ao contrário das calças normais da Levi’s, e como os outros jeans da LVC, ele é feito nos Estados Unidos pela Cone Mills, fábrica parceira da marca há mais de um século.
Suspensórios eram acessórios considerados roupa de baixo que nunca deveriam ser vistas em público. Sabe-se que suspensórios visíveis eram considerados indecentes até no mínimo 1938, quando a polícia de NY tentou proibir homens de usá-los sem casaco. Não se sabe ao certo porque o acessório caiu em desuso, mas provavelmente tem a ver com o rebaixamento do cós das calças e a casualização (existe?) do vestuário masculino. Acredita-se que a primeira vez que o 501 teve o passador para o cinto foi em 1927, refletindo a popularização do novo acessório. Em 1933 cada vez mais donos optavam por vestir seus jeans com cinto ao invés de suspensório. Eles cortavam a tira da fivela e arrancavam os botões de suspensório, e algumas lojas já tinham a tesoura pronta para cortar esses detalhes para os clientes. E por isso esse foi o último 501 a ter ambas as opções.
Mesmo fora de moda, suspensórios são bem melhores para segurar a calça, principalmente de quem tem barriga. Eles permitem que a calça fique na cintura natural, e que seja cortada para acomodar a pança, pois a calça fica “suspensa” pela tira do suspensório, ao invés de prensada contra a barriga, e hoje não há mais nenhuma regra sobre mostrar suspensórios. Fica muito legal com uma camiseta tipo henley. A boca da calça é bem larga, boa para usar com bota mais largadão, ou então você pode dobrar ela, dobrando a barra antes de virar, para deixar mais slim.
O detalhe exclusivo desse 501 de 1933 é a etiqueta escondida sob o patch de couro. A pequena etiqueta de pano branco tem uma água azul e as letras NRA, o logotipo do “National Recovery Act”, que a Levi Strauss & Co. foi autorizada a usar porque respeitou as regras trabalhistas do programa de recuperação nacional criado pelo presidente Franklin Roosevelt durante a Depressão de 1930. A reprodução tem a tag e cada jeans da linha 501 tem a sua surpresa, fielmente reproduzida pela Levi’s. É uma lembrança bem legal de uma marca que vive de sua herança mas se não me engano não tem nenhuma fábrica nos Estados Unidos.
Outro detalhe que não vemos mais hoje são os rebites aparentes no bolso e o rebite na virilha. Os rebites foram embora durante a Segunda Guerra (junto com o arco no bolso, que passou a ser pintado ao invés de costurado) para reduzir gasto de matéria prima, e depois voltaram escondidos, para não arranhar os móveis já que os jeans saíram das minas e fábricas e foram para o dia a dia da população. A calça também não tem a etiqueta vermelha no bolso, que só foi criada alguns anos depois para distinguir o jeans Levi’s dos seus competidores. Por último, os famosos arcos amarelos no bolso eram costurados com máquinas de agulha única. Hoje o arco é feito com máquinas de duas agulhas, que percorrem paralelamente e garantem um arco uniforme. Os arcos antigos são mais irregulares.
O jeans desta época não era pesado. É um bom 501 raw para o nosso clima porque entre os 501 vintages ele é um dos mais leves. Ele é feito com denim selvedge vermelho bruto e não sanforizado, pesando 10 onças (12 onças depois de lavado). Sanforização é um processo que encolhe o denim. É o pré encolhido, para que a roupa não encolher na hora de lavar. O algodão é molhado, esticado, prensado, secado, encolhido, deixando as fibras bem próximas umas das outras (o processo é mais complicado do que isso). A sanforização acabou com um grande problema, que era adivinhar o tamanho que as roupas de algodão ficariam depois de lavar. O jeans que não é sanforizado tem as fibras mais irregulares, com muito mais textura.
A primeira lavagem (só molhar e deixar secar) é muito importante quando você compra um jeans assim porque ela encolhe o algodão naturalmente e as fibras ficam mais fortes. Se você deixar a calça secar no corpo, ela vai encolher com mais personalização, no comprimento e mais ou menos 1 numeração na cintura. O resto da calça não encolhe tanto e também se solta com o uso. Para o Levi’s 1933 eu recomendo comprar o seu tamanho normal ou 1 a menos caso queira usar ele mais justo.
Como falei no início do post, a Levi’s montou um espaço cultural em São Paulo que tem alguns produtos da LVC disponíveis para venda com preços incríveis (parece que os jeans estão por R$ 150). Passa lá, ou pede para aquele amigo paulista. O Victor publicou mais detalhes lá no site dele.
Se você gosta de retrô e tiver a oportunidade, recomendo pesquisar pelas calças da Levis Vintage Clothing! Pode começar pela loja online do blog, onde eu coloco produtos garimpados em bazares e brechós, mas apenas das melhores marcas.