Restaurantes norte-americanos estilo drive-In dão as caras em qualquer conversa sobre o retrô anos 1950. Para muitos, como eu, que vivem fora dos Estados Unidos, o filme American Graffitti é uma das imagens mais famosas do que eram essas lanchonetes. A trama do filme acontece no Mel´s Drive-In, o ponto de partida para várias aventuras de um grupo de adolescentes americanos. Neste post, vamos explorar a história dessa icônica lanchonete.
O modelo de restaurante drive-in surgiu nos Estados Unidos na década de 1920. Carros eram raros antes da Primeira Guerra Mundial, mas o número de automóveis nos Estados Unidos aumentou e 8 milhões para 23 milhões entre as décadas de 1920 e 1930. Para atender motoristas, viajantes e turistas, surgiram milhares de restaurantes e lanchonetes ao longo das ruas e estradas.
J.G. Kirby e Dr. Reuben W. Jackson revolucionaram a indústria de restaurantes com o primeiro drive-in, o Texas Pig Stand, aberto em 1921. Clientes esperavam no carro pela refeição, e carhops – garçons e garçonetes de drive-in – iam de carro em carro entregando bandejas de alumínio com carne de porco grelhada e coca-cola. J.G. Kirby disse que criou o conceito porque achava que as “pessoas que carros são tão preguiçosas que não querem nem se levantar para comer”
Com o aumento do número de automóveis, a popularidade do drive-in aumentou ainda mais. Inspirados pelo sucesso deste tipo de restaurante em Los Angeles, Mel Weiss e Harold Dobbs abriram o primeiro Mel´s em 1947, em São Francisco. Uma equipe de 14 carhops cobria uma área de 3.000 metros quadrados de estacionamento. Mel´s original tinha capacidade para 110 carros e um espaço interno com capacidade para 75 clientes.
Qualquer pessoa que já assistiu o filme American Graffiti de 1973, se lembra do grande letreiro de néon ao fundo. O Mels Drive-in. Mels, ou Burger City (como era chamada no filme), era o centro das atividades de um grupo de adolescentes, o lugar onde todos os personagens convergiam e partiam, cada um para sua respectiva aventuras ao longo de uma única noite de verão em 1962. Embora a história se passe em Modesto, Califórnia, as cenas no restaurante carhop foram filmadas no primeiro drive-in de Mels, que ficava na 140 South Van Ness Avenue em San Francisco, Califórnia.
Embora o primeiro restaurante drive-in tenha surgido no Texas, foi na Califórnia que o conceito realmente decolou. A maioria dos drive-ins na Califórnia apareceu pela primeira vez na parte sul do estado. No entanto, em 1947, quando a economia pós-Segunda Guerra Mundial estava crescendo, Mel Weiss, junto com o advogado e político de São Francisco Harold Dobbs, abriu o primeiro restaurante drive-in em São Francisco.
De acordo com o site do Mels Drive-in, tudo começou com uma equipe de quatorze carhops para servir comida aos motoristas sentados em seus carros escutando a transmissão ao vivo de um radialista local. Ao longo dos próximos vinte anos, Mels cresceu e se tornou uma rede de onze lanchonetes na Califórnia.
O novo Mel’s foi um sucesso tão grande que o investimento inicial foi recuperados logo no primeiro mês. A descrição no site melsdrive-in.com conta como era o paraíso dos hambúrgueres de meados do século vinte:
”. . . o interior tinha o estilo típico de lanchonete, com bastante fórmica, cromo e assentos confortáveis. No centro do andar principal, uma fileira de banquinhos ficava de frente para um balcão circular. O fogão original tinha capacidade para produzir 180 hambúrgueres por minuto. Uma grande equipe de cozinheiros, ajudantes de garçom e garçons e carhops bem uniformizados mantinham a comida em movimento e os clientes felizes. ”
O sucesso do primeiro restaurante encorajou Weiss e Dobbs a construir vários outros restaurantes que eventualmente se espalharam por todo o norte da Califórnia, em São Francisco, Oakland, Berkeley, Sacramento, San Jose, Walnut Creek e Salinas. No auge da fama, em 1954, a rede de lanchonetes estava faturando $ 4 milhões por ano e servindo cerca de 15.000-20.000 hambúrgueres por dia, bem como muitas outras refeições.
No início dos anos 1960, Mel’s foi palco de controvérsia, sendo o local da primeira manifestação em massa do movimento pelos direitos civis na área da Baía de São Francisco. No outono de 1963, um grupo de jovens que se autodenominava Comitê Ad Hoc para Acabar com a Discriminação organizou um protesto em todos os três Mels-drive ins em San Francisco pois não haviam negros trabalhando em “funções visíveis”, como carhops, garçons, garçonetes, bartenders e caixas.
Uma semana depois, o restaurante resolveu a disputa com os manifestantes dos direitos civis ao concordar em contratar e treinar funcionários negros para cargos de “frente”. Algumas carhops e bartenders foram contratadas imediatamente. Assim, embora as práticas de contratação discriminatórias iniciais do Mel´s ecoassem uma mentalidade negativa típica da década de 1950, a rede acabou sendo um dos primeiros estabelecimentos a melhorar suas políticas, tornando-as mais justas para os afro-americanos.
Abaixo, um clipe do documentário, Decision in the Streets (1965), de Harvey Richards, que contém algumas imagens históricas do protesto de 1963 que ocorreu em frente ao Mel’s Drive-in localizado na Geary Street .
O desafio durante os protestos foi minúsculo em comparação com o que o futuro reservava para os restaurantes drive-in. Mel´s continuou reinando sem muita competição por quase 10 anos, mas as cadeias de hambúrgueres de fast-food acabaram fechando seu serviço. O McDonald’s foi o maior culpado. Com seu cardápio limitado e um sistema de pedidos self-service, o McDonalds se estabeleceu como o líder indiscutível da indústria de fast food. Em 1970, o império McDonalds consistia em 1.500 pontos de venda franqueados e estava crescendo rapidamente.
Em 1972, Weiss e Dobbs venderam a franquia Mel´s para a rede Foster’s. Foi neste mesmo ano que a gerente de locação do filme American Graffiti, Nancy Giebink, estava em busca de uma locaçã para representar um drive-in chamado Burger City. A Mel´s original na 140 South Van Ness, São Francisco, foi escolhida como o cenário colorido onde grande parte do enredo do filme se passa.
No estacionamento da Mel´s, os atores Ron Howard, Candy Clark, Richard Dreyfuss, Mackenzie Phillips, Harrison Ford, Cindy Williams, Paul LeMat, Suzanne Somers e Charlie Martin Smith deram seus primeiros passos rumo ao estrelato futuro. As cenas no local são fabulosas, com sua arquitetura Googie da era espacial, fachada curva, iluminação em neon e os carros do final dos anos 1950 entrando no drive-in com suas barbatanas parecidas com foguetes.
Algum tempo após o término das filmagens, a Foster’s finalmente pediu concordata e o restaurante foi vendido mais uma vez. Em 1976, três anos depois do filme estreiar nos cinemas, este Mels foi demolido. Quando George fez o filme, ele certamente sabia que estava registrando um pedaço da história e do estilo de vida que estava rapidamente se tornando uma coisa do passado. Mas o que ninguém apostou foi o nível de nostalgia e o impacto que esse pequeno filme de baixo orçamento teria.
Felizmente, o Mels drive-in na 140 S. Van Ness em San Francisco, com sua estrutura dramática e neon deslumbrante, foi preservado no filme clássico de George Lucas. A popularidade do filme também ajudou a estabelecer o Mel´s como um ícone da cultura popular americana de meados do século.
Na década de 1980, Steven, o filho de Mel que havia trabalhado no drive-in Mels original, decidiu reabrir o a lanchonete. Ele restaurou alguns pontos para que parecessem com restaurantes Googie dos anos 1950, com os sinais de néon e juke-box. Os adolescentes que jantavam no Mel’s original voltaram com suas famílias para mostrar aos filhos um vislumbre de como eram realmente os “bons tempos”.
Mel’s estava de volta, com novos pontos em São Francisco e duas unidades em Los Angeles, além de réplicas em grande escala (completas com hot rods clássicos, carros personalizados, carhops, tubos de neon e serviço de alimentação) nos parques temáticos da Universal Studios na Flórida e na Califórnia. O mais fotogênico dos Mels Drive-Ins ainda em atividade é o localizado na Sunset Strip, em West Hollywood. O restaurante é uma das poucas estruturas que ainda restam na cidade construídas no outrora famoso estilo de arquitetura Googie.