Santa Fé foi a cidade que mais me surpreendeu durante a minha viagem. É daqueles lugares que eu voltaria várias vezes. A cidade tem uma vibração especial. É muito convidativa e parece que todos são artistas. Todas as pessoas que interagi são amigáveis, muito receptivas e querem compartilhar o que fazem.
O Novo México tem uma história muito rica. Se você também ama história e ama descobrir novos lugares, essa cidade é para você. Para ter ideia, a casa e a igreja mais antiga dos Estados Unidos ficam em Santa Fé, com paredes de adobe feitas para durar. São antigas mas não são grandiosas, com muito charme e simplicidade. O distrito histórico que cerca a igreja também é cheio de lojas, galerias e museus, entre eles o outpost do Santa Fé Vintage.
Tem gente que não encara comprar o que é velho ou o que já foi usado. Para outras pessoas, essas coisas brilham as turquesas que adornam a prataria Navajo. São os garimpeiros… caçadores que farejam de longe um bom achado. Os melhores estão armados com uma sensibilidade certeira no olhar, geralmente um conhecimento enciclopédico, e um lugar mais do que especial no coração reservado para as coisas antigas. Esse mundo tem o peso do tempo nas costas e o toque de muitas mãos marcam a superfície de cada objeto. Por trás do Santa Fé Vintage está sem dúvida nenhuma um dos melhores olhos neste ramo, nessa caverna das maravilhas de Scott Corey.
Geralmente a regra da caçada é que os melhores tesouros são os mais difíceis de achar. O showroom do Santa Fé Vintage fica em um enorme galpão e só funciona com hora marcada. O “outpost” é um pequeno showroom no centro histórico, acessível no horário comercial, com pequena parte do acervo. Entrei no outpost e assim que comecei a falar com o Corey me senti conversando com um velho amigo. Observei a interação com as outras pessoas e todos que ali estavam pareciam se sentir assim. Essa experiência de… conversar detalhadamente sobre um pedaço de pano, compartilhar casos e dar risadas vale ouro e deixa no chinelo qualquer loja online. Esses encontros amigáveis são o que fazem diferença nas lojas físicas.
O espaço menor já é incrível: Anéis de motociclistas, tecidos com um azul que só o velho tempo consegue revelar, botas indígenas, jaquetas de couro bem surradas, chapéus de castor, botas de cowboy, malas de couro que devem ter rodado o mundo, pratas e turquesa navajo, cintos de crina de cavalo trançados por presidiários, coletes, jaquetas, cobertores… overdose! Consegui combinar uma visita ao galpão no dia seguinte, domingo de manhã, sem conseguir imaginar a magnitude do que iria encontrar.
Essas são algumas fotos do outpost, o espaço menor. Para acumular um estoque assim a pessoa ter um sexto sentido para as coisas boas, mesmo quando elas estão escondidas sob uma pilha de tranqueiras. Encontrar e conectar em uma só narrativa todos esses objetos e roupas de origens diferentes uma arte sensível, e o resultado é um espaço que é parte museu, parte galeria, parte loja.
Domingo acordei cedo e liguei o GPS. Cheguei em um galpão bem movimentado para uma manhã de domingo. É porque ele fica entre duas igrejas, soltando a voz logo de manhã, e as crianças deviam estar brincando na rua enquanto os pais assistiam ao sermão. Um lugar meio engraçado para um galpão de antiguidades, mas nem tanto… porque entrar no Santa Fé Vintage foi como como entrar em uma espécie de templo do vintage, uma caverna com salões e pisos lotados de roupas, acessórios, e objetos muito bem selecionados.
A temática da primeira sala é western e o resto do espaço é dividido em outros temas. O galpão é mais ou menos dividido em montanhismo, militarismo, alfaiataria, ocidental, indígena, esportivo, cowboy, etc. Cada corner é montado como se fosse uma galeria/loja conceito dentro de cada proposta. O caos é organizado em exposições perfeitamente imperfeitas! Eu comecei a navegar esse universo e percebi que demoraria dias e dias para ver tudo.
A primeira coisa que reparei foram os móveis e prateleiras, relíquias de dar água na boca em qualquer fã de industrial. As prateleiras estão cheias de objetos do mundo todo. Os armários, móveis, mesas e paredes estão lotados de roupas e acessórios… bandeiras, fotografias, retalhos, broches, chapéus, engrenagens, malas, e qualquer coisa com aquele charme especial. Depois me encantei com os tecidos antigos do Japão, da África e do Novo México. Colchas de retalhos e tapetes feitos por mãos muito habilidosas. O espaço militar é recheado com casacos da segunda guerra mundial, trench coats, jaquetas de aviador, e o que mais gostei: malas e baús que carregaram os pertences dos soldados sobreviventes quando voltaram para casa. De western tinham botas incríveis, chapéus de pele de castor, bandanas com desbotados magníficos e muita coisa feita por índios americanos. Fui me enfiando pelo lugar e eu encontrei ternos de Saville Row, chapéus direto da era do jazz, suspensórios, abotoaduras, mocassins indígenas, camisas e uniformes workwear, jaquetas de couro, bandeiras históricas dos EUA, e qualquer outra coisa que você imaginar dentro desses universos.
Entre os clientes mais famosos estão o Hiroki Nakamura da Visvim e a equipe da RRL, que sempre aparecem em busca de inspiração. O Scott me mostrou uma camisa de cambraia… meio furada, detonada, mas com um detalhe especial: a marca desbotada de onde ficava o suspensório. São peças assim que os designers buscam, para reproduzir o que o uso fez com muita paciência. Detalhes de costuras, acabamentos, botões, estampas de camisetas, acessórios, técnicas, cores, objetos para decoração… tudo aqui é inspiração. Tanta inspiração que ele já teve que lidar com um ou outro cara de pau fotografando camisetas para copiar. Copiar pode, mas tem que comprar!
O Santa Fé Vintage é recheado de louças antigas, propaganda industrial, placas de metal, relógios de bisavô, fotografias em preto e branco. Botas de montanhismo e parcas para encenar as expedições de Amundsen. Canecas esmaltadas, apitos, apitos, lâmpadas e outros equipamentos militares. Linhos velhos cheios de textura e cobertores de lã bem pesados. Entre todas essas coisas o que ficou marcado na minha cabeça depois dessa viagem foi a paixão das pessoas pelo que fazem.Eu acho isso incrível… as pessoas que exploram um assunto com atenção obsessiva aos detalhes. Não importa o que elas gostem, o quão obscuro ou de nicho seja, elas mergulham de cabeça e o resultado une pessoas do mundo inteiro. Com escutou Kevin Costner…If you build it, they will come. E para quem não pode ir, tem sempre a internet… o Scott está no Instagram @SantaFeVintage esperando seu lance!