Semana passada eu compartilhei algumas fotos e dicas do dia que passei em Malmö. Uma das belezas que a cidade tem para oferecer é a sapataria Rolf Hansson & Sonner Skomakeri. É uma loja de sapatos que também vende acessórios, faz consertos, e restaurações. Quem abriu a loja foi o pai, Rolf, que agora divide o espaço com os dois ex-aprendizes, os filhos Micke e Björn.
Há milhares de anos atrás o homem amarrou pela primeira vez uma pele de animal ao redor do pé pra se proteger de terrenos acidentados e lidar com o calor e o frio, permitindo que ele se locomove-se livremente.
Com o tempo surgiram os primeiros artesãos, dedicados a criar e recuperar calçados. Foram apreciados pelos clientes por anos e anos, reconhecidos pelo trabalho e dedicação ao ofício, que muitas vezes é considerado arte.
Dizem que as pessoas costumavam ter um sapato para a vida toda. Eram possessões valiosas e caras, feitas pelas mãos de um desses sapateiros. As pessoas usavam os sapatos e depois voltavam, com a esperança de que ele pudesse renovar a sola, restaurar o brilho, e trazer o calçado de volta à vida.
Embora ainda existam sapateiros tradicionais, eles são poucos e muito difíceis de encontrar. A indústria calçadista ficou mais comercial no século XVIII, quando armazéns eram utilizados para estocar sapatos pré fabricados. Já no final do século XIX a sapataria passou de artesanato para uma produção industrializada.
As máquinas deixaram os produtos mais acessíveis e a indústria passou por uma “era de ouro”. Como em muitos ofícios artesanais, as habilidades eram transmitida de pais para filhos, ou para jovens aprendizes que ajudavam na oficina enquanto aprendiam o caminho das pedras. Na produção em série cada pessoa só precisa saber uma etapa, e hoje, muitas das ferramentas e técnicas do passado desapareceram, substituídas por novos métodos de produção.
Mas não são apenas os artesãos sapateiros que fecharam as portas. Com o tempo as lojas e toda a indústria calçadista também. Os sapatos modernos são menos duráveis e são projetados para serem substituídos após o uso limitado. Sapatos são produzidos em massa há anos, e estão cada vez mais substituíveis a um baixíssimo custo.
O que ainda é um pouco mais fácil de achar são pequenas lojas especializadas, trabalhando com o que há de melhor da sapataria mundial sem fronteiras, apenas uma pequena oferta dos produtos feitos pelas melhores e mais tradicionais fábricas/marcas do mundo. As poucas que ainda sobrevivem, um pouco pela qualidade do produto e um pouco pelo valor subjetivo da arte.
A Rolf Hansson & Sonner Skomakeri trabalha com os produtos da inglesa Crockett & Jones, fábrica localizada na tradicional região de Northampton (Reino Unido) desde 1879. Eles também vendem as botas da Australiana R.M. Williams, famosa pelo modelo de chelsea boot feito com um pedaço interiço de couro. A loja é pequena, mas as paredes estão revestidas com tesouros de couro!
E eles também cuidam do que vendem! Quem me recebeu no balção foi o irmão Björn, depois de atender uma senhora que estava deixando sapatos do marido para uma ressola. Ele foi extremamente amigável, um atendimento muito agradável para uma loja com produtos caros, onde não é incomum encontrar um certo esnobismo acompanhando os zeros na etiqueta.
A principal diferença do atendimento que você recebe em um lugar assim é que a pessoa realmente sabe do que esta falando. E o mais incrível foi ver jovens sapateiros! Como os negócios parecem estar indo bem eles ainda não são aqueles tipos rancorosos e por isso a conversa sobre botas e sapatos foi muito produtiva. Deu para aprender muito sobre o funcionamento das fábricas inglesas, construção de calçados, blogs, importância da internet, estilo, e também onde forrar o estômago na Suécia.
A maior surpresa foi quando perguntei sobre a prateleira cheia de sapatos para conserto e descobri que atrás do balção ficava uma oficina. O outro irmão estava lá, palmilhando um par de penny loafers. No outro canto da oficina estava uma máquina de Goodyear Welting, solas, almas de aço, cortiça, rolos de couro, e mais um punhado de ferramentas.
Entrar em uma sapataria com cheiro de couro verdadeiro, ver gente trazer o sapato para restaurar, escutar barulho de máquinas, e observar o artesanato de qualidade me levou para um tempo diferente. Um tempo que não vivi, mas quando supostamente a atenção ao detalhe, a qualidade, e a singularidade dos produtos eram primordiais. Foi muito bacana poder conhecer este tipo de sapateiro e ter a chance de visitar mais uma loja assim, antes que elas acabem!
Olá pessoal eu sou o lindoberto…sou sapateiro proficional amo muito muito minha profissão erdei do meu pai. ….O meu maior sonho é ter uma sapataria dos sonhos. …