Santa Fé é a capital mais antiga dos Estados Unidos. A cidade foi fundada por colonizadores Espanhóis mas mantém sua influencia indígena por conta dos inúmeros povos que vivem na região. Sua arquitetura é única, com construções de adobe, é ruas repletas de galerias de artes e lojas de artesanato. As pessoas tem uma conexão muito forte com a arte, e um dos melhores lugares para absorver tudo isso é a Shiprock Santa Fe, galeria inspirada na rica cultura e tradição dos Navajo e o sudoeste norte-americano.
Shiprock é uma montanha no noroeste do Novo México. A formação vulcânica é chamada de Tsé Bitá’í em Navajo, que significa pedra com asas ou pedra alada. A rocha aparece nas lendas da tribo como um pássaro gigante que transportava as pessoas do norte gelado para a região dos Four Corners, encruzilhada do Colorado, Novo México, Arizona e Utah.
Assim como a pedra-nave, essa galeria atravessa o tempo e o espaço, mesclando arte indígena dos quatro cantos (histórica e contemporânea) com mobiliário modernista, compondo uma galeria bem eclética.
A locação em si já é fenomenal. A Shiprock fica na histórica Santa Fe Plaza (assim como o outpost da Santa Fe Vintage) ocupando o último andar do histórico Silver Building, prédio construído no final do século XVII. Os tetos abobadados e as janelas enormes dão boas vindas a uma luz natural suave que ilumina o piso de madeira original da época.
Visite sem inibição nenhuma. Aqui não tem esnobismo, e o clima é caloroso como Santa Fé. Peça dicas do que fazer na cidade e você vai receber um guia que eles prepararam com restaurantes, bares, galerias e lojas. Vague pelas salas e corredores, toque, sinta, experimente e pergunte muito. O comportamento da equipe está mais para simpáticos guias locais do que o estereotipo de curadores.
As obras de arte são quase todas trabalhos contemporâneos feitos por artistas nativo americano ou da região. A Shiprock também é um ponto de venda da marca japonesa Visvim, que combina bastante com o ambiente. A prata e turquesa feitas pelos Navajo são excepcionais. Verdadeiras joias, bem trabalhadas e com pedras incríveis do tamanho de um punho. Bem diferente dos produtos para turistas vendidos na rua.
Os tapetes e cobertores Navajos feitos a partir do século XIX são organizados em um cômodo fascinante, com cerâmicas, cestaria, esculturas, e obras de arte do passado e presente feitas pelos pueblos nativos.
A tapeçaria realmente é a parte mais impressionante da galeria. Os tapetes costumam ser vistos como mercadoria de troca entre povos mas o processo de tecelagem representa horas, dias e meses de trabalho apenas para criar um único tapete ou cobertor, razão pela qual a tecelagem é um aspecto integral e bastante espiritual da vida dos Navajo.
Hoje em dia tem como automatizar os desenhos com programas modernos mas o resultado do tear manual é muito diferente. Reparem na textura que tentei capturar com as fotos. Para os tecelões tradicionais, a riqueza, arte, beleza e filosofia são partes do mesmo cosmo recebido diretamente da Mulher-Aranha que os ensinou a criarem as teias com a imaginação. Este vídeo curto mostra o processo de preparo da lã e o tear manual, e este documentário mais longo mostra a alma por trás do trabalho.
Ao fazer a ponte entre o passado e o presente das culturas indígenas dos Estados Unidos o dono mantém viva a tradição iniciada em 1894 por seu tataravô, que operava um trading post.
A apresentação da arte tradicional ao lado de mobílias modernas me pareceu muito importante para mostrar que as tecelagens Navajo não são apenas para uma casa de adobe no southwest e ficam super bacanas em um loft industrial, por exemplo, demonstrando uma jeito de complementar estilos em um ambiente moderno.
O espaço faz da apresentação algo tão importante quanto as próprias obras, com móveis industriais e um belíssimo armário de farmácia. Me lembra a proposta de ambientes da À La Garçonne. Móveis icônicos como os desenhados por Charles e Ray Eames e George e Mira Nakashima, e exibições de artistas e designers modernos acrescentam um toque novo ao estilo clássico da região.
Visite o site da Shiprock para saber mais e confira mais dicas do que fazer no Novo México!: