A The Real McCoys é uma marca especializada em reproduções militares fundada pelo japonês Hitoshi Tsujimoto que você precisa conhecer.
A sua motivação foi a paixão pelo vintage. Esse interesse começou em 1978, quando ele tinha 18 anos. Nessa época era mais difícil encontrar produtos americanos no Japão, e poucas pessoas faziam a longa viagem internacional.
Fascinado pelo estilo de vida americano, como muitos japoneses na época, Tsujimoto fez uma road trip de quarenta dias pela América do norte. De lembranças, levou calças jeans, jerseys esportivas, camisetas e moletons, que vendeu com facilidade em um bazar. Quem podia, comprava na gringa!
O mercado vintage estava crescendo muito no Japão, e não demorou para ele abrir uma pequena loja de roupas usadas em Amerikamura, uma área de Osaka que se tornou um polo de moda Americana e cultura jovem.
Esse começo tímido em um flea market acabou virando uma das maiores potências no universo das reproduções e moda japonesa, com uma loja incrível!
O número de peças vintage originais disponível no mercado é obviamente limitado, mas a demanda japonesa parecia não parar de crescer. Assim como fizeram com o raw denim, um grupo de colecionadores se uniu para reproduzir os clássicos.
As peças dos enormes acervos acumulados serviram de base para suprir a demanda por jaquetas de aviação, workshirts de cambraia, moletons com algodão loopwheeled e botas militares.
Todos esses produtos eram feitos para atender os detalhes que os entusiastas japoneses enxergavam nos produtos vintage. Muitos desses detalhes eram inclusive considerados problemas há muito corrigidos, como jeans que encolhe ou aviamentos bem pesados.
O esforço foi tremendo, para conseguir recriar não apenas a modelagem, mas também a matéria prima, os fios, as costuras, tudo que com o tempo gerasse os mesmos efeitos que existiam nas raridades de tempos passados.
Afinal, a demanda não era por roupas parecidas com as vintage. Pra conquistar um amante do vintage, eles precisavam fazer ainda melhor para compensar a falta de idade.
Hoje, a The Real McCoys é dividida entre sub-marcas, cada qual com sua identidade:
Além dessas divisões, a The Real McCoys também detém a licença da Buco, uma lendária marca de roupas e acessórios para motociclistas que existiu entre a década de 1930 e 1940. Essa marca faliu e os japoneses compraram os direitos para relançá-la no mercado.
A loja em Tóquio é abarrotada com os produtos de todas essas linhas, e eu fui conferir de perto. Depois de ter experiências incríveis na loja da Red Wing e loja da Visvim eu estava com expectativas altíssimas, e não me decepcionei!
A loja é incrível. A entrada fica no nível da rua mas a porta dá em uma escada que te leva para o subsolo, onde os produtos estão divididos mais ou menos por estilo e categorias. Loja para quem aprecia caçada e a descoberta tanto quanto a compra. Espaço lotado, encontrado em lojas pra quem gosta de vintage, como a Mister Freedom, Trading Post e Breaknecks. É a antítese do visual merchandising minimalista que está na moda.
Um corner é dedicado a Buco e seus produtos de motociclismo, como engineer boots em couro de cavalo, jaquetas de couro e quepes. Outro canto, abriga o workwear da Double Diamond, com camisas wabash e casacos de beach cloth. Parte da loja, revive uma “haberdashery”, uma típica loja masculina dos anos 40 e 50. Um pouco mais para o lado, fica a linha casual da Joe McCoys. Quando eu digo casual eu falo de sportswear, western, e roupas do dia-a-dia (incluindo um terno estilo sack coat).
O militarismo, que faz parte da essência da The Real McCoys, aparece em cantos que criam a sensação de uma base militar antiga, ou um armazém, incluindo um hangar de metal dentro da loja!
O fluxo entre estes espaços é suave, com uma transição sutil criada pela interseção dos estilos, com anéis, apitos, canecas, e várias outras miudezas misturadas no meio de camisas de flanela, casacos pesados, e botas.
Independente do preço ou de exageros estéticos, é divertido explorar o passado. A loja te coloca dentro de um universo inspirado por inovações antigas e desafios de outras eras, com catálogos recheados de curiosidades.
A The Real Mccoys parece que existe suspensa, em um espaço atemporal, totalmente imune as pressões exercidas por tendências. Se move ao próprio ritmo, sem se importar com a direção ou velocidade do progresso.
A visão que o Japão tem dos produtos antigos feitos nos Estados Unidos é bem romântica. Eles criaram a própria interpretação do que essas coisas eram e quais eram os detalhes legais. Essa versão idealizada acabou em produtos americanos ainda melhores do que os feitos lá.
Ao observar e experimentar cada produto eu consegui sentir no peso e toque que eles são feitos para durar gerações. Senti, conversando com os vendedores e sentindo os produtos, que existe a esperança que eles passem de mãos em mãos, entre gerações.
O ideal perseguido pela The Real McCoys é que suas ideias sejam entregues ao próximo, assim como foram passadas as roupas vintage que inspiraram a marca.
Para um produto sobreviver ao tempo ele precisa ser bem feito. O objetivo é que essas roupas, um vintage do futuro, troquem de mãos cheias de muitas experiências, com uma parte da história de um ser humano.
Esse trabalho gira em torno de uma pesquisa extremamente aprofundada, de reprodução combinada com a vontade de criar algo melhor, salpicada com uma certa obsessão.
Todas as linhas The Real Mccoys seguem padrões absurdos de qualidade e atenção aos detalhes.
Não estou falando de um militarismo ou workwear superficial e abstrato, não. Não é raro um produto ser feito com fabricação própria de tecido e reprodução de botões e zíperes extintos. Outros, inclusive, aproveitam “new oldstock”, que são achados antigos não mais fabricados, em perfeito estado. Grande exemplo são as botas com solas da Catspaw, uma fabricante icônica que faz parte da história dos Estados Unidos.
A filosofia destas “repro brands japonesas” é acertar os detalhes, fabricar a matéria prima com os mesmos métodos do passado, replicar a construção do produto, recriar os aviamentos, e fazer pequenas alterações no corte buscando algo melhor do que o original, para os dias de hoje.
As jaquetas de couro continuam exatamente como eram quando vestiram Marlon Brandon e são feitas com peles de cavalo. Os casacos são forrados com deerskin. As camisetas e moletons são feitos com algodão “loopwheeled”. Esse é um método de fabricação antigo, mais trabalhoso e menos eficiente, que gera um tecido com praticamente nenhuma tensão, mais macio e que mantém a forma por mais tempo.
Os jeans tem cortes de época e são feitos de denim não sanforizado. Tem calças com detalhes característicos da economia de matéria prima necessária na época, assim como a Levis 501 1944 da Levis Vintage Clothing. O jeans WWII trocam os rebites de metal por “bar tacks”e usam botões “donut” com desenhos de folha de louro, padrão da Levi’s entre 1942 e 1944 (utilizado também nas jaquetas jeans Type II).
Detalhe: essas reproduções de jeans antigos, inspiradas em calças da Levis, foram feitas muito antes da marca original lançar a linha Levis Vintage Clothing. Sim… por um tempo, os japoneses fizeram calças da Levis melhores que as da Levis.
Ok. Os materiais e o design são fidedignos, mas nem tudo é 100% fiel. Algumas mudanças são feitas, principalmente nos cortes.
Mas porque fazer alterações se as reproduções precisam ser perfeitas? Esse ponto pode gerar um debate legal nos comentários!
A minha opinião é que algumas mudanças são necessárias, inclusive para ser fiel ao objetivo por trás de um produto que queria, acima de tudo, ser prático. Se precisava ser prático na época, precisa ser prático hoje.
Algumas roupas militares, por exemplo, eram amplas e largas para acomodar granadas e um punhado de equipamento por baixo. Você não precisa disso hoje em dia, a não ser que vá se vestir como um soldado para algum evento. Deixar a roupa como ela era, nesse caso, vai torná-la menos versátil e menos prática para os dias de hoje. Podem ser mais justas, mas as parkas seguem prontas para escalar um pico gelado.
Sim, tem produtos que vestem bem mais próximos ao corpo do que os originais, mas para eles a maioria continua bem oversized. Lembre-se que o tipo de corpo do japonês é em média, bem menor do que os americanos.
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O pessoal da loja deixou eu tirar algumas fotos. O lugar estava escuro, e eu fiquei meio sem graça de ficar demorando muito para registrar tudo e abusar da hospitalidade. Algumas imagens saíram desfocadas mas valem a pena mesmo assim.
O que achou dessa loja. É ou não é simplesmente sensacional?! Deixa seu comentário aí em baixo e não se esqueça de compartilhar, curtir o blog lá no Face e seguir no Insta para mais inspirações.
Para mais dicas de lojas no Japão, confira a rota que fiz por lá!