Uma bota masculina de couro pode ser para a vida toda. Gostar de usar botas é gostar de calçados resistentes e seguros, companheiros que ficam mais bonitos e confortáveis a medida que acumulam momentos que vão ficar na sua memória para sempre. É por isso que estamos sempre buscando as melhores marcas, com produtos e histórias que refletem esses valores e expressam nossa personalidade. A Wolverine é uma dessas marcas tradicionais que ficaram muito conhecidas entre os amantes do estilo nos últimos anos, com a reputação de produzir botas bonitas, estilosas, e bem feitas. Você já conhece essa marca?
A Wolverine faz muitos tipos de botas masculinas para vários propósitos que não tem nada a ver com a moda, mas o modelo que ficou conhecido nesse último boom de botas casuais e workwear foi a Wolverine 1000 Mile Boot. Essa bota tem um passado rico e visual incrível, mas também é um exemplo de marketing fenomenal feito por um gigante grupo multinacional que é perito em encontrar oportunidades e contar histórias.
Uma enorme contradição que faz botas muito bonitas, essa é a Wolverine World Wide. Das raízes populares no século passado aos jargões corporativos modernos, essa pequena companhia de Michigan mudou muito desde seus dias de ouro. Agora um enorme conglomerado, a Wolverine tem uma estrutura de negócios no estado da arte, mas isso veio com o custo de poder ter uma linha “heritage” coesa (“heritage” é como são chamadas as linhas que resgatam os arquivos e passado de marcas com histórico que se mistura ao folclore americano).
No texto de hoje eu vou tentar explorar a linha do tempo dessa marca pra entender como ela virou um gigante dos calçados. Você pode pensar que ela não é tão conhecida no Brasil, mas vai se surpreender com as várias facetas de um enorme fabricante de calçados. Tenho certeza que você, que gosta de botas, já pegou em uma feita pela Wolverine na sua vida.
Bora lá?
A História da Wolverine Boots
A Wolverine foi fundada em 1883 por G.A. Krause e seu tio, Fred Hirth. Os dois abriram uma loja em Grand Rapids, Michigan. A Hirth-Krause começou vendendo couro, ilhoses, cadarços e solas no atacado e comprava calçados prontos para vender no varejo.
Krause consolidou a empresa verticalmente após a virada do século, colocando seus filhos em negócios independentes relacionados a fabricação de calçados e curtimento de couro.
Em 1903, ele fundou uma fábrica em Rockford, Michigan. O filho mais velho, Otto, engenheiro pela Universidade de Michigan, operava este braço da empresa que fornecia calçados aos pontos de venda Hirth-Krause.
Para realizar o sonho de estabelecer a própria fábrica não bastou simplesmente construir. Krause teve que comprar a Rogue River Electric Company em 1901 para levar energia até a cidade. Todo o trabalho árduo valeu a pena, porque em 1903, a fábrica chegou a fazer quase 300 pares de sapatos por dia.
Cinco anos depois, G.A. e o filho mais novo, Victor, criaram o curtume Wolverine Tanning Company para controlar a matéria-prima. Victor, cuja educação envolveu aprendizados em curtimento, veio a ser a força por trás do estabelecimento da Wolverine como uma empresa de calçados americano de primeira linha.
Em 1909, Victor viajou até Milwaukee, Wisconsin, para estudar um processo de curtimento cromo e recurtimento vegetal desenvolvido por John Pfingsten. Em 1914, os experimentos resultaram em um processo para fazer “shell cordovan horsehide“, uma seção de couro tirada da parte traseira do cavalo que é firme, durável, mas até então rígida demais para ser utilizada. Foi a descoberta que fez as botas famosas.
A empresa logo deixou de usar o couro de vaca em troca de seu novo material exclusivo. Vendida como “1000 Mile Boots”, as botas tinham período de amaciamento menor e a garantia de durar “1,000 Milhas”. As botas da Wolverine se tornaram uma escolha ideal para os trabalhadores que precisavam de algo forte, acessível e, claro, confortável.
Em 1921, Hirth-Krause e a fábrica de calçados de Rockford se uniram com a Wolverine para formar a Wolverine Shoe e Tanning Corporation. Os lucros da Wolverine cresceram quase 700 por cento de 1916 a 1923 e suas botas e sapatos se tornaram uns dos mais populares na América rural e nas pequenas cidades dos Estados Unidos.
Ao longo da década, a Wolverine construiu seu primeiro armazém, criou um plano de participação para os empregados, lançou uma campanha publicitária nacional e ergueu sua primeira sede consolidada. A bota 1000 Miles foi um sucesso durante todo esse tempo e quando você compra uma hoje, está adquirindo um pedaço do que o produto representou.
A grande depressão e Segunda Guerra Mundial
Embora a Wolverine tenha sobrevivido à Grande Depressão intacta, a transição do transporte a cavalo para o transporte movido a gasolina diminuiu severamente a necessidade de cavalos nos Estados Unidos. Como resultado, a empresa foi obrigada a recorrer a mercados internacionais menos confiáveis para adquirir suas peles.
Como muitos outros fabricantes americanos de botas, a Wolverine trabalhou em colaboração com o governo durante a Segunda Guerra Mundial. A tarefa não foi produzir botas para soldados americanos. O Conselho de Produção de Guerra do governo federal escolheu a Wolverine para fabricar luvas para as tropas e sugeriu que a empresa tentasse a pele de porco como matéria-prima.
Parecia uma boa idéia até descobrirem a inadequação dos métodos de tirar a pele dos porcos, que não eram satisfatórios nem para os curtumes nem para os processadores de carne. Era difícil remover a pele sem levar uma parte da carne, e separar toda a carne muitas vezes danificava a pele. Às vezes, as peças úteis não eram grandes o suficiente para mais do que uma luva.
No entanto, a Wolverine conseguiu fabricar luvas suficientes para manter os militares felizes e os números no verde durante os anos da guerra. Quando o conflito global terminou, a demanda por luvas de pele de porco morreu e a Wolverine foi forçada a voltar para a pele de vaca, que tinha oferta mais constante do que a de cavalo e condições mais confiáveis do que o porco com o processo que gerava muito desperdício.
O presidente da empresa, Victor Krause, filho do fundador, ainda estava convencido de que a pele de porco poderia ser uma alternativa viável para o couro de vaca; era mais suave do que qualquer pele de vaca ou couro de cavalo, amplamente disponível, bastante subutilizada, respirável e fácil de colorir e limpar. Ele ficou tão obcecado com o dilema do processamento de pele de porco que renunciou à presidência de Wolverine para dedicar toda a sua atenção à questão. Seu filho, Adolph, avançou para a liderança corporativa.
Trabalhando como um consultor não remunerado, Victor Krause reuniu uma equipe de engenheiros que passou dois anos projetando um dispositivo que separava a pele de porco da carne sem danificar o produto. A Wolverine patenteou a máquina e no início dos anos 80, Wolverine teria um dos maiores curtumes de pele de porco do mundo.
A pele de porco era macia e flexível, mas não suficientemente resistente para ser usado nas botas e sapatos tradicionais de Wolverine. Em uma saída radical considerando o histórico da empresa, Krause desenvolveu sapatos casuais da pele de porco e os apresentou ao conselho de administração. O conselho não ficou particularmente entusiasmado com o novo produto, mas decidiu que uma pesquisa de mercado determinaria o que fazer.
É aqui que a história da marca faz um 180! É aqui, que na minha opinião, começa uma metamorfose que trouxe muito sucesso, mas impactou a profundidade da linha heritage que eles criaram quase 100 anos depois.
Hush Puppies – Sapatos casuais para maior conforto
A marca Hush Puppies nasceu em um restaurante durante a degustação nuggets de massa muito fritos, vulgarmente conhecidos como “hush puppies”. Quando o gerente de vendas da Wolverine perguntou sobre a origem do nome estranho, ele foi informado que os agricultores usavam os petiscos para acalmar seus cachorros.
Essa conversa lembrou outro significado coloquial para “barking dogs”: pés doloridos. Os novos sapatos da Wolverine funcionariam para pés doloridos como o lanche funcionava para acalmar os cachorros. Em 1957, o presidente de Wolverine, Adolph Krause, filho de Victor Krause, escolheu o nome canino e o logotipo de um basset hound.
Após um breve período de teste, a empresa lançou uma campanha publicitária nacional em 1958. Hush Puppies provou ser uma inovação oportuna. Com os trabalhadores se deslocando das fazendas para escritórios e do campo para os subúrbios, a Wolverine enfrentou um declínio na venda de sapatos de trabalho pesados, mas esperava um boom em sapatos mais casuais.
Foi uma virada para a marca, que passou a promover calçados casuais e confortáveis, cada vez mais longe das botas originais feitas em horsehide shell para enfrentar o trabalho no campo.
Hush Puppies tornou-se um fenômeno dos calçados no final da década de 1950 e início dos anos 1960. A Wolverine tornou a marca internacional por meio de acordos de licenciamento. As vendas da empresa quase quintuplicaram e ela fez sua oferta pública inicial na Bolsa de Valores de Nova York.
O declínio dos anos 70 e 80
A Hush Puppies colocou a Wolverine no topo do mercado de calçados casuais, mas não manteve a posição por muito tempo. As vendas começaram a diminuir no final da década de 1960, quando o público amadureceu e a marca não conseguiu conquistar clientes mais jovens. A empresa tentou se diversificar via aquisição durante esse período, comprando algumas marcas mais casuais.
Apesar desses esforços, os quase 90 anos de gestão familiar da Krause Wolverine chegaram ao fim quando a empresa declarou prejuízo em 1972. A Wolverine ameaçou uma recuperação nos últimos anos da década de 70, mas os anos 80 trouxeram novos desafios.
A nova década trouxe maior concorrência de sapatos importados e tênis esportivos que prejudicaram seriamente o negócio já enfraquecido. Em 1981, a administração Reagan eliminou cotas de importação em favor de um comércio mais livre, provocando um dilúvio de sapatos baratos da Ásia e da América Latina. Entre as indústrias dos EUA, poucas foram atingidas com mais força pela concorrência estrangeira do que a fabricação de calçados.
Metade dos fabricantes do país faliu ao longo da década de 1980. Durante o mesmo período, os consumidores começaram a passar dos sapatos estilo Hush Puppy para calçados esportivos, diminuindo ainda mais o mercado de atuação da Wolverine.
Ao contrário de muitos compatriotas, a Wolverine sobreviveu a década de 1980, mas não sem algumas mudanças. Sob a direção de Thomas Gleason de 1972 a 1992, a empresa lutou para enfrentar os desafios. Diversificou sua linha de calçados, expandiu sua operação de varejo direto, alavancou a marca Hush Puppies através de licenciamento e transferiu parte da produção para o exterior.
Em sua base bem estabelecida de sapatos de trabalho e calçados “profissionais casuais”, a Wolverine se diversificou por meio de aquisição e desenvolvimento interno. A empresa entrou no mercado esportivo em 1981 com a compra da Brooks Shoe Manufacturing Co., uma fabricante de sapatos de corrida. Eles também compraram a marca de sapatos Town & Country e Viner Bros. em 1982 e a Kaepa, outra marca esportiva, no ano seguinte.
A empresa também desenvolveu seus próprios sapatos novos, incluindo o Body Shoe, que apresentava uma “curva de conforto” ergonômica e sapatos Cloud 10, com amortecimento especial. A Wolverine esperava que sua linha expandida de calçados confortáveis voltados para a moda atraísse mais pessoas de 30 a 45 anos de idade para suas lojas.
Mas, apesar desses esforços aparentemente bem pensados, os resultados da Wolverine continuaram periclitantes. A sequência de resultados tímidos desencadeou uma reestruturação com o fechamento de cinco fábricas nos EUA, a venda de duas pequenas redes varejistas e o fechamento de 15 outros estabelecimentos, e o desinvestimento de uma fabrica relativamente nova de calçados na Alemanha Ocidental e 105 lojas. Os fechamentos das fábrica aumentaram a proporção dos sapatos Wolverine fabricados no exterior para cerca de 50%.
Aqui o trem desanda…
Os analistas acharam muitos motivos. Alguns disseram que as novas marcas casuais da empresa – Town & Country, Harbour Town of Maine e Wimzees Casuals – estavam canibalizando as vendas da Hush Puppies. Um analista disse à Footwear News, em setembro de 1985, que os executivos “perderam a direção nos últimos anos e não conseguiram colocar nem a manufatura nem o varejo de volta nos trilhos. Outro disse que a empresa ficou “muito grande para operar efetivamente”. Thomas Jaffe, da Forbes, foi mais direto, culpando “gerenciamento impulsivo, diversificações tolas e, finalmente, a inundação de importações baratas que derrubaram a maior parte da indústria de calçados dos EUA”.
Em 1987, a empresa contratou Geoffrey B. Bloom, especialista em marketing e desenvolvimento de produtos com 12 anos de experiência na Florsheim Shoe Co., como presidente e diretor de operações para outra tentativa de revitalização.
A empresa alavancou suas linhas básicas de sapatos e botas de trabalho, sapatos e calçados casuais para atender às múltiplas exigências da moda e funções dos clientes mais jovens. Por exemplo, os mais de 100 anos de experiência da empresa em fazer botas de trabalho duráveis ajudou no desenvolvimento de botas para caminhadas e ar livre. A empresa contratou novos designers para atualizar seus sapatos esportivos e casuais, e até contratou um laboratório da Universidade Estadual de Michigan para pesquisar inovações.
Embora o lucro líquido da Wolverine World Wide tenha subido na virada da década de 90, outros problemas persistentes derrubaram esta leve recuperação.
Começaram a entender porque na minha opinião a Wolverine não tem tanta força como marca “Heritage” no mesmo calibre que a Red Wing, por exemplo? Me lembra bastante o caso da história da Levi’s (esse caso de quando a Levis protestou o mundo inteiro é bem interessante). A diferença que a marca de jeans sofreu mudanças mas sempre foi uma só marca, enquanto a Wolverine foi se multiplicando em várias marcas licenciadas com propostas e níveis de qualidade extremamente variados. Não chega a ser um problema de autenticidade na comunicação mas confunde a cabeça.
Espera só para ver os anos 90…
Os dramáticos anos 90
No outono de 1990, a Wolverine anunciou outra reestruturação, incluindo planos para reduzir suas operações de varejo, fechar uma fábrica e eliminar determinadas linhas de sapato. Após várias reorganizações, rentabilidade pouco frequente e vendas deslizantes, a empresa optou por se desfazer de sua divisão de sapatos atléticos Brooks, em 1992.
A reestruturação reduziu as receitas globais de Wolverine de mais de US $ 320 milhões em 1990 para US $ 282,9 milhões em 1992, mas permitiu que ela se concentrasse em suas marcas Wolverine e Hush Puppies, que tiveram recuperações quase milagrosas no início da década de 1990.
De 1990 a 1995, Geoffrey Bloom, que sucedeu a Thomas Gleason como diretor executivo em 1993, fechou mais de 100 lojas da empresa, transformando as 60 restantes em lojas de fábrica. Ele também consolidou as 16 divisões de Wolverine em cinco unidades operacionais racionalizadas, aumentando assim a produtividade em quase um quarto de 1992 a 1994.
A revitalização de Wolverine após mais de uma década de desempenho ruim veio através de uma combinação de projetos rejuvenescidos, marketing experiente, controles de custos rigorosos e uma boa dose de sorte.
Após uma sugestão do designer de moda John Bartlett, o designer recém-contratado estilista Maggie Mercado reviveu os estilos dos anos 1950, como o “Wayne” oxford e “Earl” slip-on, oferecendo esses sapatos de camurça à prova d’água em várias novas cores.
A Hush Puppies logo começou a aparecer nos pés de estrelas famosas como Jim Carrey, Sharon Stone, David Bowie, Tom Hanks e Sylvester Stallone. Hush Puppies também se beneficiou da tendência de se vestir mais casual no trabalho, preenchendo a lacuna entre tênis e sapatos.
A Wolverine enviou fitas de vídeo com dicas de como se vestir casualmente no trabalho para 200 empresas em todo os Estados Unidos. No último golpe retro, a empresa reviveu o slogan “We invented casual” que usou para lançar a Hush Puppies em 1958. Em 1995, as lojas lutavam para ter sapatos disponíveis no estoque, tamanha a demanda.
Enquanto a Hush Puppies conquistava o mundo da moda, as botas de trabalho e caminhada da Wolverine World Wide abordaram mercados mais pés no chão. Apesar do declínio dos emprego nos setores de construção e na indústria nos EUA, as vendas de botas de trabalho Wolverine atingiram níveis recordes em 1991. O calçado de alta tecnologia, relativamente leve, contava com amortecedores e os solas antiderrapantes.
Então, com mais umas estratégia de diversificação, a Wolverine comprou a marca Coleman, uma super tradicional fabricante de equipamentos para acampamento, para lançar uma linha voltada para o ar livre. Os novos anúncios inteligentes diziam aos potenciais clientes que eles poderiam “caçar” até que o inferno fique congelado. As botas de caminhada entraram no mercado de massa através da distribuição nas lojas Wal-Mart com o nome de Coleman.
Agora vem a parte que com certeza você conhece. Em 1994, a Wolverine adicionou outra marca licenciada ao seu portfolio quando adquiriu a licença mundial para comercializar calçados sob o nome Caterpillar da Caterpillar Inc. Aproveitando a imagem robusta da Caterpillar, promoveram a nova linha como “máquinas para andar, o equipamento mais resistente da Terra”.
As vendas anuais da linha Caterpillar atingiram quase oito milhões de pares até 1997 – ultrapassando a marca Wolverine – com vendas feitas em mais de 100 países. Além do mercado de trabalho, as botas da Caterpillar tornaram-se um item moderno entre jovens que procuram calçados estilosos.
O foco no crescimento internacional aumentou as vendas internacionais, que eram quase 50% do total. A Wolverine era a única marca de calçados americanos a conseguir um contrato na Rússia. Também havia estabelecido uma loja Hush Puppies na China, e seus sapatos e marcas foram oferecidos em mais de 60 países ao redor do mundo. As vendas aumentaram em mais de 46%, passando de US $ 282,9 milhões em 1992 para US $ 414 milhões em 1995 e o lucro líquido mais do que triplicou de US $ 4,7 milhões para US $ 24,1 milhões no mesmo período.
Sim… ai mesmo tempo que o grupo fazia botas de trabalho nos Estados Unidos de trabalho ela também fabricava milhões de outras marcas diferentes com os mais variados preços e qualidade. Onde houvesse oportunidade de lucrar, eles estavam.
Não para não. MAIS novas marcas. Sério!
A expansão seguiu nos anos finais da década de 90. A Wolverine pagou US $ 22,8 milhões em dinheiro para a Florsheim Shoe Company em 1996 para comprar a linha Hy-Test de botas de trabalho industrial. A gama de marcas de calçados outdoor aumentou ainda mais com a aquisição da Merrell, uma marca de calçados de performance projetados para caminhadas, passeios de dia e uso diário.
A movimentação agressiva de Wolverine nos mercados estrangeiros continuou em 1997 com o lançamento da marca Hush Puppies na Rússia, China, França e Escandinávia e a linha Caterpillar na Rússia, China, Brasil e Índia.
Em 1998, a empresa começou a produzir uma linha Harley-Davidson casual para homens, mulheres e crianças sob um contrato de licença com a Harley-Davidson Motor Company. No ano seguinte, a Wolverine lançou sua primeira linha completa de sapatos e botas infantis, incluindo, é claro, os rótulos Hush Puppies, Caterpillar, Harley-Davidson e Coleman.
As iniciativas de crescimento ajudaram as receitas e os lucros a crescer em 1996 e 1997, mas a crise econômica que entrou em erupção na Rússia em 1998 golpeou a Wolverine, que tomou a difícil decisão de fechar sua subsidiária Russa, levando em bora 14 milhões em 1999.
Metamorfose ambulante. Reestruturação nos anos 2000
Em abril de 2000 a Wolverine anunciou que havia entrado em um acordo de licença com o Stanley Works, o famoso fabricante de ferramentas dos EUA, para desenvolver uma linha de botas de trabalho da marca Stanley. Já perdeu a conta de quantas linhas de botas esse grupo tem?
A ideia dessa linha era trabalhar um preço razoável, menos de US $ 60 por par, vendido através da Payless Shoe, a maior cadeia de lojas de calçados tipo outlet nos Estados Unidos. A barra de qualidade foi lá para baixo pra atacar mais uma fatia do mercado.
Com o objetivo de reduzir os custos operacionais, a Wolverine fechou cinco de suas fábricas em Nova York, Missouri, Canadá, Porto Rico e Costa Rica, mudando a produção para as sete restantes. Cerca de 1.400 funcionários foram cortados da folha de pagamento quando a reestruturação foi concluída em 2001, representando um quarto da força de trabalho.
No final, a iniciativa mudou ainda mais a produção da empresa para fora dos Estados Unidos, uma mudança que muitos outros fabricantes de calçados dos EUA fizeram. Antes da reestruturação, 40 por cento dos sapatos e botas de Wolverine foram feitos nos Estados Unidos, mas em 2003 esse número era de 5 por cento.
As receitas no início dos anos 2000 aumentaram em grande parte graças às vendas fenomenais da marca Merrell. A Wolverine vendeu quase 4,5 milhões de pares de sapatos Merrell, duplicando o total do ano anterior.
Além das botas de caminhada, a Merrel havia lançado uma nova categoria de calçados quando começou a vender sapatos “aftersport” – mocassins ou sandálias confortáveis com solas para tempo ruim. Os usuários hardcore dos produtos Merrell desciam das pistas de esqui, bicicletas de montanha, ou terminaram a corrida, e agora podiam comprar outro sapato para usar depois de todas essas atividades.
Longe da crise, a Wolverine World Wide registrou seu terceiro ano consecutivo de recordes em 2002, com vendas crescendo 14,9 por cento naquele ano. Os lucros aumentaram 7,5%, atingindo um recorde de US $ 47,9 milhões.
Nesse ano, Wolverine chegou a MAIS UM acordo de licença com Karen Neuburger para desenvolver uma linha de chinelos e calçados casuais para mulheres sob o nome da designer. A empresa também comprou os direitos do nome do Track ‘n Trail, uma rede de calçados que faliu em 2001. As duas lojas da Wolverine, chamadas de UpFootgear, mudaram de nome para Track’ n Trail. Cada vez mais difícl de saber quem é quem, e o que é bom e o que é ruim.
Continuando a buscar novas oportunidades de crescimento, a Wolverine chegou a um acordo em julho de 2003 para adquirir a Sebago, Inc., uma fabricante de calçados com sede em Portland, Maine. Esta aquisição colocava a Wolverine na fabricação de calçados mais requintados, pois a especialidade da Sebago eram penny loafers e seus icônicos docksiders.
Ao mesmo tempo, os trabalhadores do curtume de Wolverine em Rockford entraram em greve no mesmo mês, a primeira ação desse tipo na planta em 23 anos. Os trabalhadores estavam preocupados com a perda de seus empregos serem terceirizados ou enviados para a China, pois a empresa queria que eles concordassem que a Wolverine teria esses direitos.
Ironicamente, a empresa estava no processo de comprar uma marca que fabricava 75% de seus sapatos em duas fábricas no Maine e que levantava a bandeira do “Made in the USA”. A Sebago era conhecido pela alta qualidade de seus sapatos, que eram artesanais e costurados à mão. Hoje, fãs da Sebago lamentam o declínio da marca.
O bonde do heritage – A Marca Wolverine Hoje
A Wolverine de 2018 certamente daria um choque em G.A. Krause. Longe de seus humildes começos, a marca tornou-se uma empresa multinacional enorme. Fabricam e vendem calçados sob o nome de várias marcas, como a Mercell, Hytest Footwear, Harley-Davidson, Sperry Top-Siders, Sebago e até a Saucony.
Falando da Wolverine em si, que também é uma marca do grupo (de menos destaque): 80% vendas da Wolverine são nos EUA e no Canadá, e 85% dos seus sapatos são produzidos por fabricantes terceirizados no Sudeste Asiático. O grupo ainda possui duas fábricas dos EUA, uma no Arkansas e outra onde tudo começou, em Rockford, Michigan.
Seguindo a onda do heritage que reviveu a demanda pelos clássicos americanos, a Wolverine lançou a sua própria linha inspirada nas botas do passado. O grande problema é que, no caso da Wolverine, esse passado é confuso demais para ela ter a mesma autenticidade que algumas outras marcas possuem. Não que o resto do trabalho que eles fazem seja ruim, mas nesse segmento emplacar um produto é mais difícil do que comprar uma marca.
Não são botas ruins, mas a falta de estilos icônicos com a pegada certa fez com que a linha não emplacasse tanto, com excessão de uma bota: a 1000 Miles. Sim, aquele primeiro modelo que fez o sucesso da Wolverine e calçou os pés de fazendeiros nas cidades rurais dos Estados Unidos.
Bota Wolverine 1000 Miles Boots
Quando um produto está no mercado há mais de 100 anos você pode ter certeza que ele está fazendo algo muito certo.
A 1000 Mile Boots da linha Wolverine Heritage é uma reprodução das botas originais que eram feitas em couro shell cordovan. A diferença é que na linha moderna ela é feita com couro Horween Chromexcel.
O couro também é bem macio e oleado. Ela não tem forro mas mesmo assim é bastante confortável porque o material é espesso. A palmilha de montagem é de couro com cortiça por baixo, e a construção goodyear welted. A sola da opção normal é de couro, com salto de couro revestido de borracha. O tamanho é um ponto de atenção: elas são grandes e por isso eu recomendo você comprar um número a menos.
Aparência é subjetiva, mas eu gosto muito do visual clássico dessas botas. Elas são mais baixas no bico do que a Red Wing Iron Ranger e mais elegantes, até onde uma work boot consegue ser. O couro Chromexcel é conhecido por arranhar e mudar de cor com o uso, revelando vários tons diferentes. Ou seja, essa bota vai pegar aquela cara de antiga com muita facilidade. Cada rugga, cada risco, representa um passo… rumo as 1000 milhas. Para cuidar e limpar essa bota é fácil, basta um bom óleo para botas.
Um dos problemas (ou não) do modelo básico é que a sola de couro, apesar de ter várias vantagens, tem a desvantagem de pouca aderência e não se dar bem com dias molhados. Mesmo com a construção robusta, a sola de couro deixa a desejar na chuva. Isso é fácil de resolver colocando uma camada de borracha fina na ponta ou então adquirindo a versão Wolverine 1000 Miles Evan Boots. Eu tenho uma usada disponível na loja online do blog. Se quiser dar uma olhada, clique aqui.
Olha só o visual dessa versão:
O problema com a linha “icônica da Wolverine Boots é que seu histórico não é tão linear ou autêntico como a da Red Wing ou até mesmo a Chippewa. A famosa 1000 Mile é uma recriação da original, mas muitas das outras botas premium vendidas pela Wolverine são apenas criações modernas com ar retrô.
Para completar, acredita-se que a Wolverine terceirize a fabricação dessa linha para várias fábricas capazes de atender os padrões de qualidade esperados por clientes dessa estética. Isso torna o produto um pouco mais caro do que as botas concorrentes.
Isso não é de todo uma crítica da empresa nem da bota, que é muito bonita por sinal. Quando eu calcei a 1000 Miles imaginei os operários na fábrica dos Estados Unidos, quem sabe na cidade natal da marca, fazendo cada passo dessa bota com esmero. Como será que estava o clima em Michigan no dia?
Depois, pensei em como um produto lançado a tanto tempo ainda soa tão bem hoje em dia. Não sei bem o que pensar do grupo Wolverine… um sucesso, com certeza, mas cheio de curvas que derrubaram um pouco a identidade da marca. No entanto, essas 1000 Mile Boots são botas “heritage” de dar orgulho! Uma homenagem muito legal ao passado da marca e todas as pessoas que trabalharam duro para tirar o sonho do chão.
É isso aí! Espero que tenha gostado de conhecer essa marca e a famosa Wolverine 1000 Mile Boots. Sempre comentaram nos meus textos perguntando o que eu achava delas e finalmente coloquei para fora que gosto muito da bota em si, mas que não curto muito a linha Heritage da Wolverine porque é menos coesa e novas tem preço mais alto devido ao formato de fabricação.
É uma excelente bota, muito bonita, mas só compraria com desconto ou usada. Se for para comprar nova, iria em outras marcas com propostas parecidas como a Redwing, Chippewa ou até mesmo a Thorogood.
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Prezado Lucas, uma idéia (e só uma idéia) interessante seria abordar, em específico, as botas Caterpillar. Tem seus prós, que são muitos, mas também tem seus contras: são otimamente construídas, mas não raro são superestimadas quando se fala em uso… Tomo por exemplo um coturno que importei anos atrás, e raramente uso, pois é muito pesado e sua construção não apenas limita os movimentos (em especial os do tornozelo), como seu amortecimento trás uma sensação estranha, como se quase não houvesse certeza de ter colocado o pé no chão. Não dá para negar a qualidade, mas para uso prolongado, incomoda, como se “tivessem feito demais”, e ela tenha se excedido um pouco no que deveria ser – aço, couro, borracha, materiais de alta tecnologia, à prova de impacto, peso, choque elétrico, produtos químicos, balas… E uso prolongado.